Para quem quiser acompanhar essa história desde o inicio segue os links
Parte Um: http://bernardinicamila.blogspot.com.br/2014/07/fragmentos-historia-da-agatha-por.html
Parte Dois: http://bernardinicamila.blogspot.com.br/2014/08/fragmentos-historias-da-agatha-parte-2.html
Parte Três: http://bernardinicamila.blogspot.com.br/2014/08/fragmentos-historias-da-agatha-parte-3.html
" Em noites estreladas, eu te vi. Tão
cruelmente você me beijou. Seus lábios, um mundo mágico. Seu céu todo enfeitado
de joias. A lua mortal. Virá, muito em breve."
A noite
seguinte Daniele despertou logo que o sol deixou o céu no poente. Seu costume
era demorar um pouco mais para despertar, pois as horas que mais gostava de
caminhar e caçar eram as horas que se seguiam na madrugada. As ruas sempre mais desertas, as coisas
ficavam mais fáceis e ela não precisava se preocupar em se esconder por beiras
de esquinas. Adorava atormentar suas vitimas, gostava de vê-las a beira da
loucura. Quanto mais medo conseguia impor nelas, mas excitação sentia. Mas essa
noite seria diferente, ela não sairia para caçar e sim para andar entre as estações
de metro de São Paulo. Seu destino era a estação da luz, onde encontraria o
pianista que havia encantado Agatha e a feito pensar que homens podiam ser
diferentes do que elas acreditavam ser. Segundo ela, o pianista era nobre,
sentia amor único e tinha honra e caráter.
Daniele conhecia muito bem e sabia que os homens não eram assim,
duvidava até mesmo que eles fossem capazes de ter sentimento como amor.
Enquanto
caminhava por entre as estações, vários olhares eram atraídos para a vampira
que além de bela, usava de seus poderes para influenciar as pessoas a sua volta
como magnetismo. Estava vestida de forma
simples, mas sensual, uma camisa branca decotada, que deixava a mostra parte dos
seus seios; saia preta de cintura alta. Nos pés uma sandália também preta de
salto gigante. Nos braços várias pulseiras douradas. Elegante, charmosa e sensual. Sorria ao olhar
para o grupo de adolescentes que a olhavam embasbacados para as pernas
dela. Era engraçado ver como eles
reagiam a sua presença e os pensamentos que tinham a faziam ter uma vontade
maior ainda de rir. Se não tivesse um dever a cumprir, ficaria mais um pouco
por ali só para utilizar do seu poder de sedução para se divertir um pouco
mais, porém já estava na estação da luz e precisava descer e ver se encontraria
o pianista.
Não
demorou muito para que o encontrasse, ou melhor, o ouvisse tocar. Mesmo na multidão ainda da plataforma pode
ouvir a melodia do piano ao longe. E
reconheceu de imediato à música que ele tocava “The Phanton of the opera”. Caminhou com as pessoas para chegar próximo de
onde estava o piano e baixinho cantava acompanhando o som que ouvia:
-In
sleep, He sang to me.
In
dreams, he came..
That
voice, which calls to me
And
speaks my name...
Da
mesma forma que começou a cantar, parou. Congelada. Sentiu uma pontada de angústia e nostalgia. A
música em si não a lembrava de nada, mas a parte da letra em que dizia no sono
ele cantava para mim fazia com que ela voltasse ao passado, há um século, uma
eternidade atrás. De quando ainda era apenas uma criança e seu pai a embalava
todas as noites no colo e cantava canções até a mesma adormecer. Uma gota de
lágrima já estava prestes a cair quando Daniele percebeu que estava deixando
emoções humanas a invadir. Imediatamente voltou a sua postura fria e cruel de
sempre e voltou a caminhar até estar lado a lado com o pianista que ainda
tocava. O primeiro que fez foi invadir seus pensamentos, queria saber o que ele
sentia o que queria o que pensava enquanto tocava. Foi invadida pelas
lembranças dele. Lembranças carregadas de amor e felicidade. Conseguiu até
mesmo visualizar o rosto da mulher que o pianista amava. Todos seus pensamentos
estavam voltados para ela, para o que ela o fazia sentir. E todos aqueles sentimentos e lembranças na
cabeça dele refletiam nos dedos ágeis e na paixão com que tocava o piano. Ficou surpresa com aquele turbilhão de emoções
que descobriu no homem a sua frente. Mas sabia que ele deveria ter uma
fraqueza, um ponto em que tudo o que ele sentia seria esquecido e resolver
começar a testar suas habilidades. Afinal não estava ali para apreciar músicas bonitas
e sim provar para a Agatha que elas deveriam continuar na busca de vingança.
Hipnotizou
o pianista por um instante e ele perdeu o fio da meada e parou de tocar. Como
se por alguns segundos tivesse esquecido quem era ou o que estava fazendo ali.
Com sua mente presa na dele sussurrou de forma baixa mais que sabia que ele a
escutaria:
-Olhe
para mim.
Ele
levantou os olhos e percorreu o olhar na direção das pessoas que o olhavam
tocar, algumas o aplaudiam , incentivando para que ele continuasse a melodia. Seu olhar foi de encontro ao da vampira e os
olhares se sustentaram por alguns segundos. Mas logo ele voltou ao piano e já
iniciava uma nova música como se nada o afetasse. Daniele sentiu uma fúria
descontrolada. Como ele podia ter perdido o interesse por ela em segundos? Aliás,
nem houve interesse porque mesmo quando ele a olhava sua cabeça estava na
mulher, Camile. Sim Agatha tinha mencionado o nome, mas estava estampando na
mente dele. Como se nada mais no mundo
existisse, como se para ele nada mais importasse. Nunca tinha falhado antes,
nunca nenhum homem havia resistido aos seus encantos. Todos eram atraídos para
ela daquela forma! Sua beleza e seus poderes eram capazes de enlouquecer
qualquer um. Muitos se ajoelhavam aos seus pés.
Mas isso não ficaria assim, de uma forma ou de outra ela conseguiria
corromper aquele homem. Descobrir suas fraquezas e atacar. Ficou observando, esperando
até que finalmente ele se cansou de tocar e decidiu que já estava na hora de ir
para casa.
Assim
que teve oportunidade de ficar a sós com ele em uma rua, resolveu tentar de
novo:
-Ei
moço.
O
pianista parou de caminhar e virou-se para ela e de forma cordial e educada a
respondeu:
-Pois
não, em que posso ajudar?
-Eu o
ouvi tocando hoje mais cedo e eu gostaria de saber qual o seu nome...
-Acho
que isso não lhe convém.
Daniele
fixou seu olhar nele e disse:
-Diga
agora.
-Douglas.
Douglas
ficou surpreso em se ouvir respondendo, mas parecia que alguma força estranha
havia entrado na sua mente e o obrigado a escrever. Achou estranho, pois já era
a segunda vez naquela noite que sua mente tinha um colapso. Mas logo afastou as
ideias estranhas e imaginou que fosse somente cansaço. Bobagem achar que tudo
tinha algo de estranho, mas era assim mesmo que funcionava o cérebro de um
escritor. Sempre imaginando cenas, lugares e situações.
-Bom
senhora agora se me dá licença tenho que continuar meu caminho. Boa noite.
-Não!
Eu me encantei em vê-lo tocar e gostaria de conhecê-lo melhor, conhecer de onde
vem tanta nobreza. Aceita uma bebida? Eu pago!
-Escute
aqui senhora é melhor dizer logo de uma vez o que deseja. Não tenho tempo para
isso.
-Eu
desejo você!
-Meu
Deus, você é maluca.
Daniele
colou uma das mãos na cintura e com um gesto impaciente disse:
-Sou
feia para você nobre cavalheiro? –Falou isso de forma sarcástica, mas na
verdade estava impressionada como aquele homem se mantinha firme em sua
postura. Só queria entender porque seus poderes não surtiam efeito nenhum sobre
ele.
Douglas
suspirou irritado, estava cansado daquele papo com aquela maluca. Queria
somente chegar em casa e receber o abraço carinhoso de sua mulher e escrever.
Estava no momento escrevendo um livro sobre vampiros. Mitos e verdades sobre
esses seres. Claro que acreditava que tudo era mito, mas sempre havia loucos no
mundo para acreditar na existência de qualquer coisa.
-Não,
você não é feia!
-Então?
Eles
nem perceberam que um mendigo ouvia todo o diálogo deles, só notado quando o
mesmo bêbado se aproximou e disse:
-Liga
não gostosa! Ele não te quer, mas eu quero. Vem com o titio aqui!
Daniele
irritada esqueceu os seus propósitos e deixou as presas aparecerem, seus olhos
começaram a queimar como duas labaredas vindas do próprio inferno. Suas unhas
cresceram, ficando pontiagudas como uma arma e gritou:
-Claro
que vou com você seu filho da mãe maldito!
O
mendigo assustado cambaleou para trás e acabou caindo logo em seguida pois não estava
em condições de correr devido à bebida que havia ingerido. A vampira o segurou
e encravou suas unhas afiadas na garganta dele fazendo com que o sangue
jorrasse. O cheiro a inebriou e a vontade de saciar sua sede começou a se
apoderar. Estava descontrolada. Foi então que escutou passos correndo e olhou
para o pianista. Ele corria e já estava quase no fim da rua. Largou o pobre
homem no chão sangrando e com sua velocidade alcançou Douglas em segundos.
-Aonde
vai?
Ele se
assustou mais parou de correr e disse:
- O que
é você?
-Sou
seu pior pesadelo, sou uma vampira. Mas ao contrário dos personagens que escreve
no seu livro sou real. Muito real.
-E o
que quer de mim?
-Quero
que me ame, assim como ama essa Camile e que a esqueça. Venha viver comigo e eu
te darei a eternidade.
Daniele
se espantou com sua própria resposta, mas ela nunca tinha encontrado um homem
assim e o queria muito ao lado dela. E
se ele aceitasse sua proposta, além de tê-lo como amante, provaria a sua pupila
que ela estava enganada. Que todos os homens podiam ser ludibriados de uma
forma ou outra.
-A
eternidade para mim não teria sentido sem minha amada Camile! Não quero sua
oferta e prefiro morrer a aceitá-la.
A
vampira gargalhou, uma risada fria e cruel. Olhou para o céu e viu a lua cheia
que brilhava. Seria a última noite de lua cheia.
-Meus
avós diziam pianista que a última noite de lua cheia, temos que tomar cuidado
com nossos desejos e vontades, pois eles podem se tornar reais. Podem se tornar
uma maldição. Será que você realmente prefere a morte? A morte tem muitas
portas, muitos caminhos e formas dolorosas de te encontrar.
-O que
quer dizer?
-Por
ora nada, pode ir embora para o seu lar e seu amor. Mas não esqueça cuidado com
seus desejos e cuidado para que eles não se transformem no seu pior medo.
Daniele
desapareceu no ar como por encanto, ainda rindo. Causando calafrio no pianista.
Porém segundos depois sua mente esvaziou e ele não se lembrava de nada que
havia acontecido. Nem de como tinha chegado ali. Caminhou apressado para sua
casa e no fim da rua em que estava notou um bêbado caindo ao chão. Pensou em
ajudar, mas algo dizia que tinha que chegar logo na sua casa. Ansiedade era
tudo o que sentia.
Quando
chegou Camile já estava dormindo e ele ligou seu computador para escrever, mas
só conseguiu escrever uma frase e deixou salva para ver o que faria com ela
depois: “Cuidado com o que se deseja, entre desejo e maldição existe uma linha
tênue e fina”.