quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Fragmentos- história da Agatha



Para quem quiser acompanhar essa história desde o inicio segue os links 
Parte Um: http://bernardinicamila.blogspot.com.br/2014/07/fragmentos-historia-da-agatha-por.html
Parte Dois: http://bernardinicamila.blogspot.com.br/2014/08/fragmentos-historias-da-agatha-parte-2.html
Parte Três: http://bernardinicamila.blogspot.com.br/2014/08/fragmentos-historias-da-agatha-parte-3.html
         






"   Em noites estreladas, eu te vi. Tão cruelmente você me beijou. Seus lábios, um mundo mágico. Seu céu todo enfeitado de joias. A lua mortal. Virá, muito em breve."
               
                A noite seguinte Daniele despertou logo que o sol deixou o céu no poente. Seu costume era demorar um pouco mais para despertar, pois as horas que mais gostava de caminhar e caçar eram as horas que se seguiam na madrugada.  As ruas sempre mais desertas, as coisas ficavam mais fáceis e ela não precisava se preocupar em se esconder por beiras de esquinas. Adorava atormentar suas vitimas, gostava de vê-las a beira da loucura. Quanto mais medo conseguia impor nelas, mas excitação sentia. Mas essa noite seria diferente, ela não sairia para caçar e sim para andar entre as estações de metro de São Paulo. Seu destino era a estação da luz, onde encontraria o pianista que havia encantado Agatha e a feito pensar que homens podiam ser diferentes do que elas acreditavam ser. Segundo ela, o pianista era nobre, sentia amor único e tinha honra e caráter.  Daniele conhecia muito bem e sabia que os homens não eram assim, duvidava até mesmo que eles fossem capazes de ter sentimento como amor.
                Enquanto caminhava por entre as estações, vários olhares eram atraídos para a vampira que além de bela, usava de seus poderes para influenciar as pessoas a sua volta como magnetismo.  Estava vestida de forma simples, mas sensual, uma camisa branca decotada, que deixava a mostra parte dos seus seios; saia preta de cintura alta. Nos pés uma sandália também preta de salto gigante. Nos braços várias pulseiras douradas.  Elegante, charmosa e sensual. Sorria ao olhar para o grupo de adolescentes que a olhavam embasbacados para as pernas dela.  Era engraçado ver como eles reagiam a sua presença e os pensamentos que tinham a faziam ter uma vontade maior ainda de rir. Se não tivesse um dever a cumprir, ficaria mais um pouco por ali só para utilizar do seu poder de sedução para se divertir um pouco mais, porém já estava na estação da luz e precisava descer e ver se encontraria o pianista.
                Não demorou muito para que o encontrasse, ou melhor, o ouvisse tocar.  Mesmo na multidão ainda da plataforma pode ouvir a melodia do piano ao longe.  E reconheceu de imediato à música que ele tocava “The Phanton of the opera”.  Caminhou com as pessoas para chegar próximo de onde estava o piano e baixinho cantava acompanhando o som que ouvia:
                -In sleep, He sang to me.
                In dreams, he came..
                That voice, which calls to me
                And speaks my name...
                Da mesma forma que começou a cantar, parou. Congelada.  Sentiu uma pontada de angústia e nostalgia. A música em si não a lembrava de nada, mas a parte da letra em que dizia no sono ele cantava para mim fazia com que ela voltasse ao passado, há um século, uma eternidade atrás. De quando ainda era apenas uma criança e seu pai a embalava todas as noites no colo e cantava canções até a mesma adormecer. Uma gota de lágrima já estava prestes a cair quando Daniele percebeu que estava deixando emoções humanas a invadir. Imediatamente voltou a sua postura fria e cruel de sempre e voltou a caminhar até estar lado a lado com o pianista que ainda tocava. O primeiro que fez foi invadir seus pensamentos, queria saber o que ele sentia o que queria o que pensava enquanto tocava. Foi invadida pelas lembranças dele. Lembranças carregadas de amor e felicidade. Conseguiu até mesmo visualizar o rosto da mulher que o pianista amava. Todos seus pensamentos estavam voltados para ela, para o que ela o fazia sentir.  E todos aqueles sentimentos e lembranças na cabeça dele refletiam nos dedos ágeis e na paixão com que tocava o piano.  Ficou surpresa com aquele turbilhão de emoções que descobriu no homem a sua frente. Mas sabia que ele deveria ter uma fraqueza, um ponto em que tudo o que ele sentia seria esquecido e resolver começar a testar suas habilidades. Afinal não estava ali para apreciar músicas bonitas e sim provar para a Agatha que elas deveriam continuar na busca de vingança.
                Hipnotizou o pianista por um instante e ele perdeu o fio da meada e parou de tocar. Como se por alguns segundos tivesse esquecido quem era ou o que estava fazendo ali. Com sua mente presa na dele sussurrou de forma baixa mais que sabia que ele a escutaria:
                -Olhe para mim.
                Ele levantou os olhos e percorreu o olhar na direção das pessoas que o olhavam tocar, algumas o aplaudiam , incentivando para que ele continuasse a melodia.  Seu olhar foi de encontro ao da vampira e os olhares se sustentaram por alguns segundos. Mas logo ele voltou ao piano e já iniciava uma nova música como se nada o afetasse. Daniele sentiu uma fúria descontrolada. Como ele podia ter perdido o interesse por ela em segundos? Aliás, nem houve interesse porque mesmo quando ele a olhava sua cabeça estava na mulher, Camile. Sim Agatha tinha mencionado o nome, mas estava estampando na mente dele.  Como se nada mais no mundo existisse, como se para ele nada mais importasse. Nunca tinha falhado antes, nunca nenhum homem havia resistido aos seus encantos. Todos eram atraídos para ela daquela forma! Sua beleza e seus poderes eram capazes de enlouquecer qualquer um. Muitos se ajoelhavam aos seus pés.  Mas isso não ficaria assim, de uma forma ou de outra ela conseguiria corromper aquele homem. Descobrir suas fraquezas e atacar. Ficou observando, esperando até que finalmente ele se cansou de tocar e decidiu que já estava na hora de ir para casa.
                Assim que teve oportunidade de ficar a sós com ele em uma rua, resolveu tentar de novo:
                -Ei moço.
                O pianista parou de caminhar e virou-se para ela e de forma cordial e educada a respondeu:
                -Pois não, em que posso ajudar?
                -Eu o ouvi tocando hoje mais cedo e eu gostaria de saber qual o seu nome...
                -Acho que isso não lhe convém.
                Daniele fixou seu olhar nele e disse:
                -Diga agora.
                -Douglas.
                Douglas ficou surpreso em se ouvir respondendo, mas parecia que alguma força estranha havia entrado na sua mente e o obrigado a escrever. Achou estranho, pois já era a segunda vez naquela noite que sua mente tinha um colapso. Mas logo afastou as ideias estranhas e imaginou que fosse somente cansaço. Bobagem achar que tudo tinha algo de estranho, mas era assim mesmo que funcionava o cérebro de um escritor. Sempre imaginando cenas, lugares e situações.
                -Bom senhora agora se me dá licença tenho que continuar meu caminho. Boa noite.
                -Não! Eu me encantei em vê-lo tocar e gostaria de conhecê-lo melhor, conhecer de onde vem tanta nobreza. Aceita uma bebida? Eu pago!
                -Escute aqui senhora é melhor dizer logo de uma vez o que deseja. Não tenho tempo para isso.
                -Eu desejo você!
                -Meu Deus, você é maluca.
                Daniele colou uma das mãos na cintura e com um gesto impaciente disse:
                -Sou feia para você nobre cavalheiro? –Falou isso de forma sarcástica, mas na verdade estava impressionada como aquele homem se mantinha firme em sua postura. Só queria entender porque seus poderes não surtiam efeito nenhum sobre ele.
                Douglas suspirou irritado, estava cansado daquele papo com aquela maluca. Queria somente chegar em casa e receber o abraço carinhoso de sua mulher e escrever. Estava no momento escrevendo um livro sobre vampiros. Mitos e verdades sobre esses seres. Claro que acreditava que tudo era mito, mas sempre havia loucos no mundo para acreditar na existência de qualquer coisa.
                -Não, você não é feia!
                -Então?
                Eles nem perceberam que um mendigo ouvia todo o diálogo deles, só notado quando o mesmo bêbado se aproximou e disse:
                -Liga não gostosa! Ele não te quer, mas eu quero. Vem com o titio aqui!
                Daniele irritada esqueceu os seus propósitos e deixou as presas aparecerem, seus olhos começaram a queimar como duas labaredas vindas do próprio inferno. Suas unhas cresceram, ficando pontiagudas como uma arma e gritou:
                -Claro que vou com você seu filho da mãe maldito!
                O mendigo assustado cambaleou para trás e acabou caindo logo em seguida pois não estava em condições de correr devido à bebida que havia ingerido. A vampira o segurou e encravou suas unhas afiadas na garganta dele fazendo com que o sangue jorrasse. O cheiro a inebriou e a vontade de saciar sua sede começou a se apoderar. Estava descontrolada. Foi então que escutou passos correndo e olhou para o pianista. Ele corria e já estava quase no fim da rua. Largou o pobre homem no chão sangrando e com sua velocidade alcançou Douglas em segundos.
                -Aonde vai?
                Ele se assustou mais parou de correr e disse:
                - O que é você?
                -Sou seu pior pesadelo, sou uma vampira. Mas ao contrário dos personagens que escreve no seu livro sou real. Muito real.
                -E o que quer de mim?
                -Quero que me ame, assim como ama essa Camile e que a esqueça. Venha viver comigo e eu te darei a eternidade.
                Daniele se espantou com sua própria resposta, mas ela nunca tinha encontrado um homem assim e o queria muito ao lado dela.  E se ele aceitasse sua proposta, além de tê-lo como amante, provaria a sua pupila que ela estava enganada. Que todos os homens podiam ser ludibriados de uma forma ou outra.
                -A eternidade para mim não teria sentido sem minha amada Camile! Não quero sua oferta e prefiro morrer a aceitá-la.
                A vampira gargalhou, uma risada fria e cruel. Olhou para o céu e viu a lua cheia que brilhava. Seria a última noite de lua cheia.
                -Meus avós diziam pianista que a última noite de lua cheia, temos que tomar cuidado com nossos desejos e vontades, pois eles podem se tornar reais. Podem se tornar uma maldição. Será que você realmente prefere a morte? A morte tem muitas portas, muitos caminhos e formas dolorosas de te encontrar.
                -O que quer dizer?
                -Por ora nada, pode ir embora para o seu lar e seu amor. Mas não esqueça cuidado com seus desejos e cuidado para que eles não se transformem no seu pior medo.
                Daniele desapareceu no ar como por encanto, ainda rindo. Causando calafrio no pianista. Porém segundos depois sua mente esvaziou e ele não se lembrava de nada que havia acontecido. Nem de como tinha chegado ali. Caminhou apressado para sua casa e no fim da rua em que estava notou um bêbado caindo ao chão. Pensou em ajudar, mas algo dizia que tinha que chegar logo na sua casa. Ansiedade era tudo o que sentia.
                Quando chegou Camile já estava dormindo e ele ligou seu computador para escrever, mas só conseguiu escrever uma frase e deixou salva para ver o que faria com ela depois: “Cuidado com o que se deseja, entre desejo e maldição existe uma linha tênue e fina”.

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