quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Fragmentos- história da Agatha parte Cinco por Camila Bernardini



              



  Do outro lado da cidade Agatha caminhava de um lado para o outro em todos os cômodos da sua casa. Por um momento tinha pensando em seguir Daniele e certificar-se de que ela não mataria o pianista. Estava arrependida de ter contato á ela sobre ele, mas queria mostrar a vampira que talvez estivessem erradas. Que talvez ainda existisse um pouco de amor no mundo e na humanidade. Descartou a ideia de segui-la, sabia que isso colocaria mais ainda em risco a vida daquele homem.  Daniele não gostava de confrontos, e ser desafiada, ainda mais por sua pupila seria um risco mortal de despertar ira nela.  E sem c escolha ficou caminhando pelos cômodos, olhando para o seu celular. Esperando que ele tocasse. Mas isso não acontecia.  Irritada jogou o celular longe, sem medir sua força.  O aparelho ficou em pedaços e ainda fez um pequeno buraco na parede.
                A vampira decidiu que sairia, ia pegar sua moto e se aventurar pelas estradas. Não aguentaria passar mais uma noite trancada em casa a espera que algo acontecesse. E também não podia se dar ao luxo de sentimentos tão humanos como a lamúria. Se o garoto que conheceu não havia a procurado até então, ela deveria esquecer. Além do mais o que faria se ele a procurasse? Afinal era um demônio em pele humana. Estava morta e tudo que poderia oferecer para aquele garoto era um caminho de escuridão, isso se na hora de sua fome e sede não se entregasse aos seus instintos e acabasse o matando.  Tinha sido uma tola sim, mas não ia ficar mais parada e sim voltar a se entregar a sua natureza. Foi até a sua biblioteca e na escrivaninha de madeira, abriu a última gaveta. Lá estava a chave de sua moto. Aquisição adquirida recentemente.  Agatha era apaixonada por motos e pela sensação de liberdade que a mesma sentia quando estava na estrada, sentindo o vento bater em seu rosto. E naquela noite tudo o que precisava era cair pela estrada.  Estava com um vestido preto de pano leve de algodão, estampa de algumas pétalas brancas. Decidiu que não trocaria de roupa, pilotaria a moto de vestido mesmo.
                Minutos depois Agatha já estava na estrada e a sensação de liberdade despertará nela verdadeira paz. Conseguia somente sorrir enquanto a brisa da noite tocava sua pele fria. Um sentimento de liberdade, andar de moto dava a sensação de ser um pássaro, voando baixo, sem nada engaiolando. Era como uma busca incessante de ser livre. O contato com as sensações eram sentidas em sua pele, no rosto, e o tempo deixará de ser importante. Sua mente cheia de questionamentos estava vazia.  Estava entregue aquele momento. Enquanto pilotava deu uma súbita vontade de se entregar mais aquele momento e decidiu que o lugar perfeito seria onde pudesse ter mais contato com a natureza para completar sua noite.
                Algumas horas depois Agatha tinha chego à sua praia favorita. Gostava de Peruíbe, era um lugar do qual se sentia bem e tinha muitos lugares onde poderia desfrutar da beleza da natureza. Mas seu destino àquela noite foi à praia do Costão, pois tinha certeza que lá estaria mais vazio do que as praias do centro. E não queria aglomeração. Queria que a noite fosse apenas dela e de sua aventura.
                Desceu da moto e arrancou seus sapatos, segundos depois já estava caminhando pela areia fofinha. A sensação dos seus pés tocando a areia era reconfortador, o cheiro da brisa do mar e o barulho ao longe das ondas tocando as pedras. Tudo a deliciava. O bom de ser vampira era ter os sentidos ampliados, o que tornava cheiros, sons e cores mil vezes mais impressionantes do que no sentido dos humanos. Caminhou por mais um tempo e quando se deu conta estava correndo. Correr era um exercício há tanto tempo esquecido, que ela havia esquecido como era boa também a sensação. Agatha correu até chegar à beira do mar e entrou na água. Com roupa e tudo mergulhou nas ondas.  Já não se importava com mundo, com seus problemas, com Daniele. Estava totalmente entregue, como hipnotizada por todo aquele lugar mágico e de energia boa e contagiosa. Quando cansou dos mergulhos, subiu em uma das pedras e começou a percorrer toda a extensão de pedras da encosta do Costão. Escolheu uma das mais altas para ficar. E deitou, olhando para o céu e as estrelas. A beleza do céu era perfeita. Longe das metrópoles e cidade, onde a poluição era mil vezes menos, o céu ficava limpo e podia se ver muito mais o brilho do manto da noite e seus enfeites que o iluminavam.  Era assim que quando criança chamava as estrelas e a lua, de enfeites iluminadores do céu. A vampira começou a gargalhar sozinha, estava inebriada, e isso era tão bom.
                Fechou os olhos e ficou quieta apenas apreciando o momento, mas logo o silêncio foi preenchido por algumas vozes, e Agatha sentou em alerta. Parecia ser um grupo de jovens pelas vozes e cão coisas desconexas que falavam. Mas na verdade o que despertará sua total atenção era uma única voz. A voz dele, e o cheiro dele que vinha junto com o vento. Não seria possível que tivesse caminhado para tão longe para esquecê-lo e o encontrará bem ali. As vozes se aproximavam cada vez mais e o grupo chegou até ela.
                Gabriel ria de alguma piada, mas parou quando notou que alguém estava sentado na pedra e os observava. Seu coração deu um salto quando notou que era a moça que conhecerá na balada e eu haviam conversado por horas, até ela simplesmente dizer que tinha que ir e sumir. O deixando sozinho na rua. Ela dera o número de seu telefone para ele, mas ele não havia ligado com medo de que ela tivesse dado ou errado, pois não tinha demonstrado o menor interesse nele. Pensou nela durante alguns dias e agora o destino colocava o dois frente á frente. Achou-a meio maluca de estar em um lugar daqueles sozinha, ainda mais sendo mulher, seria perigoso. O mundo estava cheio de malucos. Sorriu de forma tímida e acenou para ela:
                -Oi.
                -Quem é ela? – perguntou uma menina do grupo, era alta, um pouco gordinha, sem rosto redondo e usava óculos, não era do tipo bonita e Gabriel não ia muito com a cara dela não por sua aparência, mas sim por sua personalidade desagradável e irritante. Mas era amiga de seus amigos e não podia evitar estar nos mesmos lugares que ela.
                -Uma amiga Ana.
                -Nossa que tipo de amiga é essa? Saiu do hospício.
                -Cala a boca!
                Gabriel não deu atenção para a garota e foi até próximo de onde Agatha estava sentada.  Ela continuava parada, imóvel, incrédula.
                -Oi
                Ela olhou para ele e como desperta de um transe finalmente o respondeu:
                -Oi, tudo bem? – sua voz saiu calma, mas a verdade era que estava com vontade de esmurrá-lo, bater nele até não poder mais. Queria gritar com ele. Sentiu suas unhas crescerem e cravou elas na rocha disfarçadamente para que ele não notasse e mentalmente tentava controlar sua fúria.
                -Estou bem e você?
                -Por que não ligou?
                Gabriel ficou quieto diante da pergunta e estava com medo de responder a verdade, então após alguns minutos de silêncio respondeu:
                -Que cobrança é essa? Somos só amigos.
                Agatha ia respondê-lo, mas o restante do grupo se aproximou e Ana com um tom de voz mais irritante do que nunca comentou:
                -Ei, não vai apresentar sua amiga para nós.
                A vampira olhou a menina à frente e não gostou dela. Tinha um jeito desagradável de falar, um cheiro ruim, e ela tinha um olhar de ódio contido. Era falsa. Podia sentir isso, mesmo sendo a primeira vez que a via. Os outros garotos do grupo pareciam legais. Normais como todos outros humanos.
                -Claro que vou, essa é minha amiga Agatha. Esses são meus amigos bestas.  Lucas, Kildery e Sandro.
                -E eu sou a Ana já que ele não apresenta.
                -Olá Ana- Agatha prendeu seu olhar no da garota e pode ler seus pensamentos e logo descobriu a irritação da garota. Era apaixonada por Gabriel, mas ele não gostava dela. Nem um pouco por sinal, e tudo que ela fazia para chamar a atenção dele era visto de outra forma e afastava mais ainda o garoto dela.
                Os garotos todos deram oi e ficaram claro embasbacados com a beleza dela. Um deles o Kildery até mesmo disse:
                -Guria você é muito linda, com todo respeito.
                Agatha riu, gostou do sotaque gaúcho dele e agradeceu de forma espontânea. Notou, porém que Ana fechará a cara, e pensava no momento porque ninguém a elogiava.
                Lucas então, o que parecia o mais novo da turma disse:
                -Nós estamos indo para o centro beber, nos acompanha?
                -Não, obrigada, vou ficar por aqui e curtir um pouco mais da paisagem e da solidão.
                Gabriel a olhou de soslaio e disse baixinho.
                -Sempre misteriosa- e voltou para os amigos e disse: - Podem ir, vou ficar aqui com ela se não se importam. Encontro vocês na pousada mais tarde.
                O grupo então se dispersou e o garoto sentou ao lado da vampira.
                -E ai sua monga?
                -Moncga?
                -Sim você aquele dia simplesmente foi embora e hoje te encontro aqui sozinha. Você esta bem?
                -Sim, seu idiota!
                Agatha o chamou de idiota com um tom de brincadeira, mas se controlava muito para não esbofetear a cara dele naquele momento.
                Gabriel notou que ela estava tensa e perguntou:
                -O que foi?
                -Nada!
                -Quando uma mulher diz nada, significa tudo!
                A vampira riu, adorava a forma como ele a fazia gargalhar. Era até mesmo como se fosse humana como ele, como se pudesse tê-lo. Pudesse ter uma vida normal. Esqueceu a raiva que sentia e se entregou aquele momento. E mais uma vez os dois conversaram soe várias coisas e vários assuntos diferentes.  Notou quando as mãos dele tocaram as suas e sentiu um arrepio percorrer seu corpo quando o contraste da pele quente dele com a sua fria se tocaram.
                Os dois se entreolharam e Gabriel lentamente subiu suas mãos tocando seu rosto, ela fechou os olhos para sentir o toque e deixou que o ar invadisse seus pulmões com o cheiro dele. Aquele toque era tudo que desejava e precisava naquele momento e ainda de olhos fechados sentiu quando ele a beijou.  No começo ficou com medo de corresponder o beijo e com o que aquilo representava. Pois desde sua morte, quer dizer desde sua transformação só se aproximava dos homens dessa forma para matá-los.  Mas não resistiu muito tempo e afastou esses pensamentos se entregando de forma plena. O beijo lento foi se transformando em um beijo avassalador, cheio de desespero. As mãos de Gabriel percorriam o corpo de Agatha de forma firme, ele segurava no momento a cintura dela.
                Agatha interrompeu o beijo para tirar a camisa dele, queria o sentir. Sentir a pele quente dele sobre a dela. O olhou nos olhos e se prendeu ali enquanto tocava seu peito. E com a ponta de suas unhas descia toda a extensão da pele até chegar a virilha e voltava para cima. O provocando. Gabriel já estava sem fôlego, mas estava gostando da forma como ela o seduzia. Fechou os olhos sentindo o toque, sentindo o desejo pulsar sobre suas veias. Estava tudo perfeito. O momento era único e de forma alguma os dois queriam que terminasse. Já tinham voltado a se beijar, e ele um pouco mais ousado começou a acariciar seus seios. Ela arqueou e soltou um gemido baixinho.
Entregues daquela forma, se assustaram quando começaram a ouvir gritos vindo da praia. A voz era de Ana. Os dois pararam de se beijar subitamente.
                -O que será que está acontecendo?
                Agatha o olhou surpresa ainda com a interrupção e disse:
                -Vamos!
                Sem esperar ele levantar de forma ágil percorreu a trilha de pedras até chegar à praia novamente. Ana estava no chão se debatendo com um cara por cima, que tentava aquietá-la. Gabriel chegou logo depois e correu em direção ao cara, o empurrando na areia. O mesmo caiu, mas logo se recuperou dando um soco nele. Gabriel caiu no chão, com a boca sangrando.
                Agatha sentiu o cheiro de sangue e sentiu que suas presas cresciam, ficou sem saber o que fazer, pois não queria revelar sua natureza. Mas também não podia permitir que aquilo continuasse. Notou quando o cara sacou um revólver da blusa e estava pronto para atirar em Gabriel.  Foi na direção dele com velocidade surpreendente para mortais e com sua força arrancou a arma e a arremessou longe. Para fora do alcance da vista deles.  O cara a olhou surpreso, ela começou a chutá-lo, e seu chute tinha tão força que ele caiu no chão gritando de dor. Mesmo caído sua fúria ainda era grande e o cheiro de sangue despertava sua sede. Olhou para Ana e Gabriel e disse:-       
                -Vamos embora!
                Para sua surpresa Gabriel também estava de moto. Ele deu carona para Ana até o centro onde seus outros amigos estavam e Agatha os seguiu na sua própria moto. Nesse percurso usou seus poderes para que a menina esquecesse o que tinha visto. Mas não sabia por que o mesmo não funcionava com Gabriel.
                Após deixar Ana no bar, os dois caminharam um pouco pelo calçadão. Mas Agatha sabia que logo amanheceria e ela precisa ir embora. De cabeça baixa e um pouco constrangido Gabriel caminhava em silêncio, até não suportar mais e perguntar para ela:
                - O que foi aquilo?
                A vampira o olhou e tudo que queria era fugir para não responder aquilo, não revelar o monstro que era. Mas também não tinha mais tempo para respostas.
                -Escuto eu preciso ir, mas amanhã a noite te darei respostas.
                -Se eu pedir para ficar vai adiantar?
                -Não.
                Ele suspirou então, dando um selinho nele e caminhou em direção contrária indo embora. A vampira o observou por mais alguns instantes e logo após caminhou para procurar um esconderijo. Onde passara o dia, fugindo da luz do sol. Fugindo do calor e da humanidade. Sabia que nunca poderia ser humana novamente, e que era um erro se entregar a momentos humanos como estava fazendo. Mas não tinha escolha. Era mais forte do que ela poderia imaginar ou prever. Na noite seguinte revelaria a verdade para ele, mesmo com medo. Era o certo a ser feito.

Um comentário:

  1. historia ta ficando cada vez melhor, so arruma aquela parte de " monga" que ta escrito "mongca"

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