Nota: A primeira parte desse conto foi escrita pela autora Isabela Santos, que tem apenas doze anos e muita história para contar. Eu escrevi a parte final em parceria com ela!
Espero que gostem e se apaixonem! E para quem não leu a primeira parte segue o link
http://bernardinicamila.blogspot.com.br/2014/09/no-alto-da-torre-por-isabela-santos.html
Duma
olhou chocada e assustada para as penas de suas asas que estavam ao chão,
caídas, como um lembrete perante a desobediência do seu mestre. Recusava-se
acreditar que fora castigada apenas por permanecer um pouco mais de tempo na
cidade, por tentar descobrir quais os mistérios e criaturas viviam nela a noite.
E não tinha sido tão ruim assim Afinal não encontrou nenhum monstro a noite
toda, ninguém a tinha machucado ou coisa do gênero. De fato o único ser vivo
que encontrou foi o hibrido, que dissera a ela ser uma mistura de demônio com
vampiro. Além do susto inicial, ele não havia causado mal a ela. Tinham apenas
conversado trivialidades. Cimeries o nome dele, se ao menos soubesse onde encontrá-lo.
Estava perdida não podia mais voltar ao céu e também não podia voar. Como
desceria da torre para procurar abrigo? O sol estava escaldante e começou a sentir
sede e cansaço. Sua boca já estava seca e seus lábios entrecortados,
descascando a pele, já mostravam os primeiros sinais de desitratação. Começou a
se sentir tonta, colocou os braços sobre a cabeça para se proteger do sol, mas
estava se sentindo febril e seu corpo começou a dar sinais de fraqueza sem
cessar. As pernas tremiam e já não conseguiam se sustentar. Duma sentou no chão
se apoiando em uma das paredes do relógio. Ficou ali imóvel tentando recuperar
suas forças e adormeceu.
Horas
depois acordou com o som de gargalhadas e alguém a chacoalhava. Abriu seus
olhos e ao fazer um movimento para se levantar, sentiu uma leve dor transpassar
pelo seu corpo. Notou que estava escuro e que era noite. Tinha dormido o dia
inteiro? Ou melhor, desmaiado. Ainda sentia sede, mas o calor terrível de antes
fora substituído por frio. Sua pele
arrepiada e seu corpo estremecia cada vez que o vento a tocava. Ainda estava
meio zonza, desorientada. Tentando encaixar as lembranças na sua mente,
entender o que estava acontecendo. Quando ouviu uma voz grossa rir:
- A
princesa resolveu acordar?- e após o comentário várias outras vozes rindo. Duma
olhou assustada para a voz, e se assustou mais ainda com o que via na sua frente.
Uns quatro ou cinco homens a olhavam com ar de deboche. Mas não eram de fato
homens. Tinham aparência humana, mas os olhos eram amarelados, o nariz comprido
e as orelhas pontiagudas como de um Elfo. Mas uma raça desconhecida. Será que
era essa a raça estranha que tinha que temer e a qual seu mestre a alertará?
-Além de
adormecida, é surda? –Falou o homem a sua frente!
-Não sou
surda! O que são vocês?
Ao som
de mais gargalhadas, o homem que parecia o líder, pois era o único que falara
até o momento disse:
-Somos
Grejis. Uma raça de demônios. Na verdade sou um, os outros que você vê são
projeções que crio.
-Como
assim?
-Minha
função é levar medo ao coração dos homens, consigo multiplicar minha forma em
várias para assustá-los mais. Consigo me transformar em qualquer coisa. E você
criatura, o que és?
Duma
pensou algumas vezes, mas resolveu contar a verdade. Sua natureza a impedia de
mentir:
-Um
anjo... Ou eu era um anjo, mas ontem tive minhas asas cortadas.
O Greji
á frente dela lançou um olhar malicioso e seus olhos antes amarelos brilharam
ficando carmesim.
-Então
não é mais um anjo criatura e sim um demônio.
-Não
sou.
-Claro
que é!
E assim
Greji e suas projeções se transformaram em diabinhos gargalhando. Duma chorou e
tampou o ouvido com as mãos para abafar o som daquela incômoda risada. Mesmo
assim ouviu quando uma voz mais grossa gritou:
-Deixe-a
em paz!
-Me
desculpa senhor Cimeries!
O
demônio então criou asas e desapareceu voando no céu escuro. Duma ainda chorava
encolhida em um canto. Não quis nem olhar para o outro que tinha acontecido na
noite anterior. Estava envergonhada por ter desobedecido seu mestre e perdido o
direito de viver no céu. Ele tinha razão, aquela criatura á pouco fora maligna
com ela. Tinha medo das outras criaturas que poderia encontrar. Gritou
assustada quando Cimeries tocou seu braço.
-Calma,
sou eu!
-Fique
longe de mim – ela dizia entre soluços.
Cimeries
recuou alguns passos, não queria assustá-la mais.
-Vá
embora, o que ainda está fazendo aqui?
-Todas
as noites eu venho aqui depois da meia-noite. Você está desobedecendo às ordens
do céu novamente?
-Como
assim?
-Não me
disse que sempre tem que ir embora antes da meia-noite?
-Não
tenho mais para onde ir embora. Fui expulsa do céu. Perdi minhas asas e todos
os meus direitos como Anjo.
-Divindades
e suas regras ridículas.
Duma
olhou espantada para ele, jamais ousou questionar as regras do céu e nunca vira
ninguém fazendo isso antes.
-Não sei
o que fazer.
-Venha
comigo, vamos descer dessa torre e caminhar pela cidade.
-Como
vou descer?
-Maldição!
-Não
fale assim.
Cimeries olhou para ela de
forma divertida, subiu no parapeito da torre e deixou que suas asas negras como
o petróleo se abrissem. Estendeu a mão para Duma e carinhosamente disse:
-Venha!
-Como?
-Vou te carregar.
-Ah não vai não, não confio em você. È um demônio
-Ontem quando passou a noite conversando comigo não pensou
nisso! Bom se não quer minha ajuda tudo bem. Fique ai quem sabe vire comida de
algum outro que apareça por aqui.
O hibrido deixou seus pés flutuarem, mas ainda estava
pairando sobre a torre. Viu que Duma subia no parapeito e se estendia para ele.
A segurou com força, e pegou em seu colo. Voou com ela por alguns minutos sobre
o céu. Gostava de voar, mas a sensação de carregar alguém enquanto voava era
inteiramente nova. Estava consciente dela, da respiração ofegante, das mãos que
segurava seu pescoço com firmeza. A olhou e viu que estava com os olhos
fechados apertados
-Mas que isso anjo, até ontem você tinha asas e voava.
-Mas eu voava sozinha... E podia controlar meu próprio
voo.
-Confie em mim, às vezes precisamos que outros nos guiem
que outro nos ajude quando estamos com dificuldades. Sei que seu mundo era
perfeito, e que talvez você desconheça outras coisas... Mas diante das
dificuldades e tristezas que alimentamos a alma.
-Você fala muito bonito e entende muitas coisas para...
-Para o que? Um demônio?
Cimeries ficou furioso e logo alcançou o chão, deixando-a
desajeitadamente, fazendo com que ela perdesse o equilíbrio e quase fosse de
encontro ao chão.
-Que pouso foi esse? Seu grosso!
-Tem razão sou um demônio... E não deveria te ajudar
criatura. Sou um monstro, já fiz muito em te ajudar a descer. Segue seu caminho
Cimeries virou as costas e recomeçou a andar. Duma gritou
para que ele parasse, mas ele fingiu que não a ouvia. Ela então correu e quando
o alcançou disse:
-Espere me desculpa.
Cimeries a olhou e por um momento pensou em recomeçar a
andar, mas resolveu deixar seus impulsos para lá. Ficou parado diante dela e
disse:
-Eu sou livre para caminhar somente quando o sino daquela
torre em que você costumava sentar badalava á meia-noite. E todas as noites eu
voava para lá e ficava observando o céu. E observando o anjo que voltava para a
sua casa. Via suas asas resplandecer até sumir para o lugar de onde eu nunca
terei direito. E ficava por lá, até notar que o dia amanheceria e que já era
hora de recolher. Seu perfume, brilho e energia continuavam na Torre. E era
isso tudo o que eu precisava sentir.
-Não entendo o que quer dizer?
-Que demônios também amam Duma! – Cimeries então a
segurou pelos braços e a beijou. Foi um beijo adocicado, a mistura de várias
sensações inexploradas pelos dois. Nem notaram que os dois se enchiam de luzes
e as asas de Cimeries mudaram de negras para branca e as costas de Duma novas
asas surgiam. Os dois então ainda sem se dar conta flutuavam pelo céu estrelada.
Aquele seria o primeiro beijo de um amor verdadeiro e no coração dos dois
sabiam que aquilo no momento era o bastante. Que saberiam percorrem o caminho.
- Fique comigo Duma e te ensinarei tudo que precisar.
-Claro que ficarei, mas tudo que precisarei será de você Cimeries.
Os dois sorriram um para o outro e agora que notaram que
estavam voando, continuaram a voar, até virarem dois pontinhos minúsculos no céu.
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