domingo, 7 de setembro de 2014

No Alto da Torre - Parte final- escrita por Camila Bernardini



       
 Nota: A primeira parte desse conto foi escrita pela autora Isabela Santos, que tem apenas doze anos e muita história para contar. Eu escrevi a parte final em parceria com ela!
Espero que gostem  e se apaixonem! E para quem não leu a primeira parte segue o link 
http://bernardinicamila.blogspot.com.br/2014/09/no-alto-da-torre-por-isabela-santos.html





     Duma olhou chocada e assustada para as penas de suas asas que estavam ao chão, caídas, como um lembrete perante a desobediência do seu mestre. Recusava-se acreditar que fora castigada apenas por permanecer um pouco mais de tempo na cidade, por tentar descobrir quais os mistérios e criaturas viviam nela a noite. E não tinha sido tão ruim assim Afinal não encontrou nenhum monstro a noite toda, ninguém a tinha machucado ou coisa do gênero. De fato o único ser vivo que encontrou foi o hibrido, que dissera a ela ser uma mistura de demônio com vampiro. Além do susto inicial, ele não havia causado mal a ela. Tinham apenas conversado trivialidades. Cimeries o nome dele, se ao menos soubesse onde encontrá-lo. Estava perdida não podia mais voltar ao céu e também não podia voar. Como desceria da torre para procurar abrigo? O sol estava escaldante e começou a sentir sede e cansaço. Sua boca já estava seca e seus lábios entrecortados, descascando a pele, já mostravam os primeiros sinais de desitratação. Começou a se sentir tonta, colocou os braços sobre a cabeça para se proteger do sol, mas estava se sentindo febril e seu corpo começou a dar sinais de fraqueza sem cessar. As pernas tremiam e já não conseguiam se sustentar. Duma sentou no chão se apoiando em uma das paredes do relógio. Ficou ali imóvel tentando recuperar suas forças e adormeceu.
            Horas depois acordou com o som de gargalhadas e alguém a chacoalhava. Abriu seus olhos e ao fazer um movimento para se levantar, sentiu uma leve dor transpassar pelo seu corpo. Notou que estava escuro e que era noite. Tinha dormido o dia inteiro? Ou melhor, desmaiado. Ainda sentia sede, mas o calor terrível de antes fora substituído por frio.  Sua pele arrepiada e seu corpo estremecia cada vez que o vento a tocava. Ainda estava meio zonza, desorientada. Tentando encaixar as lembranças na sua mente, entender o que estava acontecendo. Quando ouviu uma voz grossa rir:
            - A princesa resolveu acordar?- e após o comentário várias outras vozes rindo. Duma olhou assustada para a voz, e se assustou mais ainda com o que via na sua frente. Uns quatro ou cinco homens a olhavam com ar de deboche. Mas não eram de fato homens. Tinham aparência humana, mas os olhos eram amarelados, o nariz comprido e as orelhas pontiagudas como de um Elfo. Mas uma raça desconhecida. Será que era essa a raça estranha que tinha que temer e a qual seu mestre a alertará?
            -Além de adormecida, é surda? –Falou o homem a sua frente!
            -Não sou surda! O que são vocês?
            Ao som de mais gargalhadas, o homem que parecia o líder, pois era o único que falara até o momento disse:
            -Somos Grejis. Uma raça de demônios. Na verdade sou um, os outros que você vê são projeções que crio.
            -Como assim?
            -Minha função é levar medo ao coração dos homens, consigo multiplicar minha forma em várias para assustá-los mais. Consigo me transformar em qualquer coisa. E você criatura, o que és?
            Duma pensou algumas vezes, mas resolveu contar a verdade. Sua natureza a impedia de mentir:
            -Um anjo... Ou eu era um anjo, mas ontem tive minhas asas cortadas.
            O Greji á frente dela lançou um olhar malicioso e seus olhos antes amarelos brilharam ficando carmesim.
            -Então não é mais um anjo criatura e sim um demônio.
            -Não sou.
            -Claro que é!
            E assim Greji e suas projeções se transformaram em diabinhos gargalhando. Duma chorou e tampou o ouvido com as mãos para abafar o som daquela incômoda risada. Mesmo assim ouviu quando uma voz mais grossa gritou:
            -Deixe-a em paz!
            -Me desculpa senhor Cimeries!
            O demônio então criou asas e desapareceu voando no céu escuro. Duma ainda chorava encolhida em um canto. Não quis nem olhar para o outro que tinha acontecido na noite anterior. Estava envergonhada por ter desobedecido seu mestre e perdido o direito de viver no céu. Ele tinha razão, aquela criatura á pouco fora maligna com ela. Tinha medo das outras criaturas que poderia encontrar. Gritou assustada quando Cimeries tocou seu braço.
            -Calma, sou eu!
            -Fique longe de mim – ela dizia entre soluços.
            Cimeries recuou alguns passos, não queria assustá-la mais.
            -Vá embora, o que ainda está fazendo aqui?
            -Todas as noites eu venho aqui depois da meia-noite. Você está desobedecendo às ordens do céu novamente?
            -Como assim?
            -Não me disse que sempre tem que ir embora antes da meia-noite?
            -Não tenho mais para onde ir embora. Fui expulsa do céu. Perdi minhas asas e todos os meus direitos como Anjo.
            -Divindades e suas regras ridículas.
            Duma olhou espantada para ele, jamais ousou questionar as regras do céu e nunca vira ninguém fazendo isso antes.
            -Não sei o que fazer.
            -Venha comigo, vamos descer dessa torre e caminhar pela cidade.
            -Como vou descer?
            -Maldição!
            -Não fale assim.
Cimeries olhou para ela de forma divertida, subiu no parapeito da torre e deixou que suas asas negras como o petróleo se abrissem. Estendeu a mão para Duma e carinhosamente disse:
            -Venha!
            -Como?
            -Vou te carregar.
            -Ah não vai não, não confio em você. È um demônio
            -Ontem quando passou a noite conversando comigo não pensou nisso! Bom se não quer minha ajuda tudo bem. Fique ai quem sabe vire comida de algum outro que apareça por aqui.
            O hibrido deixou seus pés flutuarem, mas ainda estava pairando sobre a torre. Viu que Duma subia no parapeito e se estendia para ele. A segurou com força, e pegou em seu colo. Voou com ela por alguns minutos sobre o céu. Gostava de voar, mas a sensação de carregar alguém enquanto voava era inteiramente nova. Estava consciente dela, da respiração ofegante, das mãos que segurava seu pescoço com firmeza. A olhou e viu que estava com os olhos fechados apertados
            -Mas que isso anjo, até ontem você tinha asas e voava.
            -Mas eu voava sozinha... E podia controlar meu próprio voo.
            -Confie em mim, às vezes precisamos que outros nos guiem que outro nos ajude quando estamos com dificuldades. Sei que seu mundo era perfeito, e que talvez você desconheça outras coisas... Mas diante das dificuldades e tristezas que alimentamos a alma.
            -Você fala muito bonito e entende muitas coisas para...
            -Para o que? Um demônio?
            Cimeries ficou furioso e logo alcançou o chão, deixando-a desajeitadamente, fazendo com que ela perdesse o equilíbrio e quase fosse de encontro ao chão.
            -Que pouso foi esse? Seu grosso!
            -Tem razão sou um demônio... E não deveria te ajudar criatura. Sou um monstro, já fiz muito em te ajudar a descer. Segue seu caminho
            Cimeries virou as costas e recomeçou a andar. Duma gritou para que ele parasse, mas ele fingiu que não a ouvia. Ela então correu e quando o alcançou disse:
            -Espere me desculpa.
            Cimeries a olhou e por um momento pensou em recomeçar a andar, mas resolveu deixar seus impulsos para lá. Ficou parado diante dela e disse:
            -Eu sou livre para caminhar somente quando o sino daquela torre em que você costumava sentar badalava á meia-noite. E todas as noites eu voava para lá e ficava observando o céu. E observando o anjo que voltava para a sua casa. Via suas asas resplandecer até sumir para o lugar de onde eu nunca terei direito. E ficava por lá, até notar que o dia amanheceria e que já era hora de recolher. Seu perfume, brilho e energia continuavam na Torre. E era isso tudo o que eu precisava sentir.
            -Não entendo o que quer dizer?
            -Que demônios também amam Duma! – Cimeries então a segurou pelos braços e a beijou. Foi um beijo adocicado, a mistura de várias sensações inexploradas pelos dois. Nem notaram que os dois se enchiam de luzes e as asas de Cimeries mudaram de negras para branca e as costas de Duma novas asas surgiam. Os dois então ainda sem se dar conta flutuavam pelo céu estrelada. Aquele seria o primeiro beijo de um amor verdadeiro e no coração dos dois sabiam que aquilo no momento era o bastante. Que saberiam percorrem o caminho.
            - Fique comigo Duma e te ensinarei tudo que precisar.
            -Claro que ficarei, mas tudo que precisarei será de você Cimeries.
            Os dois sorriram um para o outro e agora que notaram que estavam voando, continuaram a voar, até virarem dois pontinhos minúsculos no céu. 

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