sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Máscaras por Camila Bernardini - primeira parte



      



                              Nota: Segunda parte será escrita pela querida Isabela Santos


         Quando a noite caiu, alguns guerreiros do Reino Razar, abaixaram a ponte levadiça que separava o castelo da cidade, por todo o percurso se estendiam tochas para iluminar o caminho para os convidados que logo chegariam. A noite era especial, pois o Rei ia celebrar o aniversário de maioridade do seu filho e sucessor Alexander.  O salão estava divino cheio de comidas, especiarias e bebidas, a decoração impecável. O piso de mármore branco, as tochas refletiam nele dando um feito belo e ao mesmo tempo sombrio no local.
                Logo as primeiras carruagens começaram a chegar e tanto as damas como os cavalheiros estavam mascarado com máscaras de todas as cores e formas. Algumas com lantejoulas e muito brilho, outras mais elegantes e discretas. O salão se enchia rapidamente e logo os músicos começariam a tocar. O rei já aguardava impaciente que seu filho chegasse quando o viu no alto das escadarias que levavam ao patamar de cima do castelo. Logo todos olharam em direção, as donzelas suspiravam diante da beleza e riqueza que aquele jovem príncipe poderia oferecer.  Alexander notou que já tinha atraído todos os olhares para ele e começou a descer as escadas. Suas roupas belas, usava um sobretudo comprido e largo com mangas longas e amplas, os botões ornamentado com pedrarias. Nos pés botas fechadas com fivelas que cobriam as pernas até os joelhos. Sua pele bronzeada, seus cabelos castanhos claros com o tom de olhos da mesma cor. Cabelos curtos e uma barba comprida. Era símbolo de virilidade e poder.  Quando chegou ao último degrau, bateu palma duas vezes, e os músicos começaram a tocar ma música alegre, e como se todos saíssem da hipnose começaram a dançar e rir alegremente. Alexander pegou sua máscara preta, sem adornos e colocou em seu rosto para se misturar a multidão.
                A festa transcorria de forma agradável e muitos já estavam alterados com o vinho e outras bebidas.  Faltavam duas horas para que finalmente o sino badalasse meia noite e todos tirassem suas máscaras revelando suas identidades.  Para Alexander essas duas horas, pareciam mais como a eternidade, estava cansado e entediado. O maior propósito do seu pai para organizar aquela festa era com que ele conhecesse alguma alta dama da sociedade e pudesse se casar com ela o mais depressa possível.  Suspirou, se sentindo irritado e foi caminhar até o jardim. Precisava de um pouco de ar puro. Sabia que deveria se casar, mas a verdade é que nenhuma mulher que conhecerá até o momento prendia sua atenção. Não era exatamente falta de beleza e sim de um algo mais. Só que ele não sabia o que era esse algo mais que tanto procurava.
                Do jardim conseguia ver todos que chegavam e partiam e ficou impressionado com a carruagem que chegava. Era branca, com adornos dourados por toda parte. Os cavalos que a guiavam eram pretos como o manto da noite e o cocheiro tinha uma postura ereta, rígida. Mas impressionado ficou com a dama que desceu dela. Era a mulher mais linda que já tinha visto em toda a sua vida, mas era mais que isso. Ela tinha um brilho próprio impressionante, que mesmo e longe ele conseguia sentir. Correu até as portas de entrada para vê-la melhor e também para descobrir quem era quando a anunciassem.
                Um dos guardas então proclamou:
                -Dama Badb, vinda do Reino Thorin.
                Ele a olhou e se impressionou, os cabelos dela eram loiros mais puxados para o dourado, caiam até a cintura e cachos perfeitos. Sua pele branca, seu rosto liso e sem marcas, olhos pequenos e também dourados. A boca carnuda e de um vermelho vivo, sua face corada de forma suave.  Seu vestido era longo e dourado, com um pequeno decote, ajustado na cintura e fechado por cordões e com mangas justas.  No pescoço um colocar simples, mas com uma pedra pequena e preta, brincos da mesma forma.  Sua beleza e elegância não eram tudo que impressionava, ela tinha um porte altivo, caminhava elegantemente e emanava energia, força.   
                Badb entrou no salão e logo colocou sua máscara preta com pedrarias em dourado que combinava com o restante de sua vestimenta. Logo muitos cavalheiros a convidaram para dançar, mas ela os recusava com delicadeza e educação.  Estava lá por um motivo.  Precisava alertar ao rei sobre invasores que pretendiam invadir o reinado, saqueá-los e se apoderar do poder. Sabia que o rei Razar era arrogante e não acreditaria. Mas de qualquer forma era seu dever alertá-lo.
                Caminhava por entre os salões, se desviando das pessoas que dançavam, quando esbarrou em Alexsander. Assim que se esbarraram um pequeno choque invadiu seu corpo, junto com um leve tremor. Fechou os olhos para respirar fundo, não podia se transformar ali na frente de todos.
                O príncipe inalou o ar, o cheiro dela também era convidadito. Perfume de lavanda com uma pitada de camomila. Ele conseguia identificar bem os cheiros e as essências de perfumes. Viu que ela fechou os olhos assim que esbarrou nele e se preocupou:
                -Desculpe senhorita, está se sentindo bem?
                -Sim, só está um pouco quente aqui.
                -Quer caminhar até os jardins?
                Badb olhou para ele e sorriu tão parecido com o pai, mas não tinha um ar arrogante e conquistador. Tinha um olhar forte, honesto e de valores. Talvez pudesse dar o recado diretamente a ele.
                -Sim, claro.
                -Te acompanharei.
                Os dois caminharam silenciosamente e já no jardim se encararam, Alexander pensou em desviar o olhar, mas se encantou com a postura dela em encará-lo também sem mostrar constrangimento ou fraqueza por ser uma mulher. Ela era diferente, disso já tinha certeza, tinha brilho próprio. Nunca encontrará nenhuma mulher assim no seu reino e isso o deixava intrigado.
                Ela sorriu para ele de forma simples:
                -O que tanto me olha nobre cavalheiro?
                -Gostaria e vê-la novamente sem a máscara, como quando chegou. È tão linda.
                -Mas só posso retirar a máscara como instrução no seu convite quando o sino der seus doze badalos. Terá que aguardar. Mas por que quer me ver novamente sem ela?
                -È tão linda, tão forte.
                -Ora, deixe de galanteios jovem príncipe. Eles não funcionam comigo.
                -São elogios sinceros senhorita.
                Badb o olhou e suspirou, retirou a máscara e antes que ele pudesse dizer, mas alguma coisa aproximou seu rosto do dele, fechando os olhos. Seus lábios estavam próximos, mas sem se tocarem. Ergueu uma de suas mãos e acariciou o rosto do jovem príncipe. Seu coração batia de forma descompassada, deixando com que ela esquecesse a verdadeira razão de estar ali. Alexander com a voz rouca e sussurrada desviou o rosto e colocou seu lábio próximo ao ouvido dela e disse:
                -Realmente é diferente de tudo minha dama.
                E voltou seus lábios novamente para ela e a beijou, um beijo profundo e apaixonado, doce e ao mesmo tempo desesperado. Suas mãos a agarraram pela cintura como que com medo que ela fugisse assustada. Mas pelo contrário ela correspondia o beijo, quase que sem fôlego. Ficaram assim por um bom tempo, até quando finalmente a hora esperada chegou. Todos nos salões retiravam as máscaras e davam gritos de comemoração e festividade. Badb interrompeu o beijo e o olhou seriamente:
                -Escute, preciso ir, mas tenho que alertá-lo invasores vindo do norte pretendem invadir seu reino daqui a três dias e atacá-los. Tome cuidado e avise seu pai para que vocês possam evitar, mas uma guerra desnecessária.
                -Como sabe disso e porque me alerta? – pergunta o príncipe mudando seu humor bruscamente e ficando irritado.
                -Não posso dizer.
                -Fique aqui que vou chamar meu pai e você dará informações para ele.
                Virou as costas e correu para dentro do salão, mas quando voltou à dama já não estava mais lá. Ele correu até a carruagem dela e abriu a porta com força, mas ela também não estava ali. Na carruagem apenas um corvo dentro. Olhou para aquele pássaro, tão estranho dentro de uma carruagem e notou que os olhos do corvo eram dourados como os dela. Só podia estar enlouquecendo.
                Seu pai não acreditou no alerta, achou que o filho estava bêbado e tinha fantasiado demais. Alexander passou os outros três dias pesquisando sobre a dama, mas não encontrou informação alguma sobre ela. Estava frustrado, mas não podia passar o resto dos seus dias procurando por uma mulher estranha e linda. Sim era linda e isso ele não conseguia esquecer.
                Ao fim do terceiro dia do baile, o príncipe ouviu gritos vindos das muretas e de todas as partes do castelo. Do seu quarto, que era no alto de uma torre pode observar que a ponte levadiça estava aberta e que invasores caminhavam por ali e outros já se encontravam no jardim. Estavam sendo atacados e nem um pouco preparados para isso. Já que a única mulher que o avisará sobre o mesmo tinha evaporado no ar e feito seu pai duvidar do que ele dizia. Notou na janela um corvo parado o observando e um calafrio percorreu sua espinha.  Afastou todos os pensamentos da sua cabeça, pegou sua espada e correu para ajudar os guardas de seu castelo proteger o seu reino. No caminho foi surpreendido algumas vezes, mas estava vencendo a batalha com todos que cruzava com ele facilmente. Como se o espírito da guerra tivesse tomado conta dele. Quando chegou ao jardim viu seu pai parado e um homem apontando uma fecha para ele. Quando o invasor disparou a fecha do arco, ele correu se colando entre a flecha e seu pai. A mesma o atingiu perto do coração, ele sentiu o pulmão doer e fôlego sumir, se curvou, desabando de joelhos no chão. Quando o invasor ia atirar a segunda fecha algo estranho aconteceu.  Vários corvos vinham do alto do céu, voado de forma estranha e ordenada. Um deles pousou perto do príncipe, e o fitava com olhar triste, enquanto os outros ainda voavam baixo sobre os invasores e sobre a luta que continuava ali no jardim.
                O rei não ficou surpreso quando viu o que aconteceu, mas sentiu raiva, pois seu reino e seus guardas eram invencíveis, não precisava de ajuda. Olhou seu filho caído ao chão gritando de dor, dor infligida para salvá-lo, mas não o ajudou. Virou as costas e caminhou para dentro do castelo para se esconder. Foi até seu quarto e pegou a pequena caixa de veludo vermelho que escondia em um dos seus armários. E ficou ali sentado sobre sua cama olhando a caixa e esperando.

Um comentário:

  1. "Entregue uma Máscara a qualquer homem que lhe dará toda verdade"
    Oscar Wilde.

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