Bruna caminhava só por ruas quase desertas, quase sem iluminação. Olhou para o céu, a lua brilhava forte, estava magnífica, completa, do jeito que ela gostava. Continuou andando, sem rumo, perdida em pensamentos angustiantes. Já era altas horas da madrugada, por isso não estranhava a quietude dos lugares em que estava passando. Tudo era silêncio e solidão total.
Parou
em frente um prédio espelhado, para ver o seu reflexo. Via uma menina
branca, de quase 1,80, olhos pequenos, cabelos ondulados, compridos e
vermelhos. Sabia ser bela, mas as preocupações a deixaram com algo
diferente, um ar de tristeza a rondava, fazendo com que ela parecesse
cansada. Sorriu para si mesma, e viu que o efeito do seu sorriso já não
era tão forte como antes. Decidiu continuar sua caminhada noturna.
Uma
voz sussurrou em seu ouvido para que fosse andar entre os túmulos do
cemitério, onde estava próxima. Não sabia de onde vinha essa voz, mas
achou ser seu subconsciente, pois era cética de mais para acreditar em
coisas “fora do normal”. Olhou em sua mochila, viu duas garrafas de
vinho e um maço de cigarros, tudo que precisava para passar o resto da
madrugada.
Chegando
ao cemitério, ficou um longo tempo olhando para o portão, dali de fora
não conseguia enxergar muita coisa. Tratou logo de dar um jeito de
entrar. Já lá dentro, pegou uma garrafa de vinho, sorvendo a em pequenos
goles, pois queria estar sóbria ainda, para apreciar um pouco daquela
arte tão obscura. Aquele cemitério, cheio de estátuas, sepulturas de
incrível arquitetura e epitáfios que mais pareciam poemas para estarem
em um dos livros dos poetas do mal-do-século.
Andando
por entre as lápides, sentia-se em contato com o mundo da morte e da
vida ao mesmo tempo, sabia que esse momento de solidão em lugares assim
era para refletir e encontrar um motivo para continuar. Foi perdida em
pensamentos que tudo começou, foi sentindo e escutando passos, que
deveriam estar atrás dela, um pouco distante, mas não teve dúvida de que
alguém estava a seguindo. Parou de andar, ficou congelada, paralisada
pelo medo. Não conseguia dar passos para frente e nem olhar para trás,
foi então que viu que o quer que fosse que estivesse também ali se
aproximava. Estava perto. Seu coração bateu descompassado, foi então que
correu. Corria sem nem saber do que, só queria estar segura. A garrafa
de vinho escapou de suas mãos, caindo no chão, fazendo um barulho que a
assustou mais ainda.
Queria
continuar correndo, mas seus malditos pulmões não agüentavam mais, ou
ela corria, ou respirava. Lembrou do cigarro em sua bolsa, e pensou: “Se
eu sair dessa paro de fumar”. Encostou seu braço em um túmulo, estava
frio... Frio como a morte que logo a alcançaria se ficasse ali. Tentou
correr de novo, mais tarde de mais. Mãos a agarraram, segurando de tal
forma que Bruna, não conseguia nem se mover. Ficou parada então,
esperando o próximo passo desse estranho. Foi então que sentiu as mãos
dele se moverem para seu pescoço, fazendo longo carinho ali, onde
pulsava a jugular. Eram mãos frias, como de um cadáver. Ela sentia seu
corpo tremendo, não sabia se era medo ou a repulsa de cada toque dele a
sua pele.
O
estranho então virou Bruna, para que ela pudesse olhá-lo de frente. Ela
não se contendo gritou com o que viu. Parecia um homem normal, exceto
sua pele excessivamente pálida e seus olhos que pareciam duas chamas
vindas do inferno.
-Assustada Bruna?
A
voz dele era mais sobrenatural ainda, uma voz como de um fantasma. De
alguém que não precisava de ar. Ela não o respondeu. Ficou só o olhando,
foi então que o viu sorrir:
- Sim está com medo, isso fará com que meu alimento seja muito mais saboroso. Sinto o cheiro de medo em você menina.
Bruna
agora via duas presas pontiagudas, saindo de sua boca. Eram dentes de
vampiros. Ele um vampiro? Não podia acreditar! Ela não teve tempo de
pensar em mais nada, as presa logo alcançaram a pele de seu pescoço,
perfurando-a. Era estranho, o medo tinha sumido, sentia um prazer, um
êxtase estranho. Aos poucos sua visão foi ficando turva, sentia-se fraca
até que desmaiou.
O
vampiro sorriu, era uma bela garota, o medo dela o excitou mais ainda.
Ficou olhando para aquele corpo no chão, seria desperdício deixá-la
morrer. Ajoelhou-se perto do corpo imóvel de Bruna, e a beijou. Bruna
aos poucos foi retomando os sentidos, sentindo o gosto de sangue. Sugou
todo o sangue que pode daquele vampiro. Ele então a soltou e disse:
-Bem vinda às trevas!
Ela
sorriu, já não sentia mais medo. Agora pertencia mesmo aquele lugar,
vagaria naquele cemitério entre a morte, espreitando qualquer sinal de
vida que ali passasse para saciar sua sede.
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