domingo, 24 de agosto de 2014

Fragmentos - histórias da Agatha- parte 2 por Camila Bernardini

Para quem não leu a primeira parte, segue link http://bernardinicamila.blogspot.com.br/2014/07/fragmentos-historia-da-agatha-por.html
. E para quem leu espero que gostem da segunda parte.



            



    “O destino. Contra sua vontade. Para o que der e vier. Ele esperará até que você se entregue a ele.”

                Logo amanheceria e Agatha estava trancada em seu quarto, após pedir para que seu criado mais uma vez limpasse todo o vidro estilhaçado da cristaleira que havia quebrado. Dispensou Daniele, pois queria ficar sozinha, não estava a fim de conversar com ela sobre mais teorias malucas de vingança e morte.  Estava cansada de jogos, de morte e de sua sede de sangue. Queria se permitir viver outras coisas. Passará metade da sua eternidade caçando, se vingando.  Não podia negar que o prazer que sentia ao acabar com vítimas era avassalador, mas desde que conhecera Gabriel alguma coisa tinha mudado. Ele era apenas um garoto de vinte e dois anos que conhecerá uns meses atrás.  Era para ter sido mais uma de suas vítimas mais simplesmente não tinha conseguido matá-lo.
                Foi mais uma dessas noites que saiu para caçar. Agatha escolheu uma casa noturna que tocava rap e black, gêneros musicais que não apreciava muito. Mas estava cansada das baladas rotineiras, e dos adolescentes que se vestiam como vampiro e desejavam ser um.  Mal eles sabiam que viver pela eternidade era de fato uma maldição a ser carregada. Algo doloroso, um verdadeiro fardo para carregar.  Aquele mundo charmoso vampiresco era somente em filmes e livros. Na vida real era bem diferente. Viver anos a fio, ver pessoas envelhecer, matar para sobreviver, se privar do sol, solidão, essas sim eram características perfeitas de ser imortal.
                A vampira estava um pouco incomodada com a música mais até que o ambiente não era de todo ruim. Foi até o bar pedir uma bebida, para parecer um pouco normal. Riu sozinha ao pensar isso. Como se as pessoas hoje em dia rotulassem tanto o que parecia normal e o que não parecia. Enquanto aguardava sua bebida notou um garoto encostado no balcão.  Observou ele por alguns instantes, era magro, pele morena escura, olhos castanhos claros. Era tão garoto. Tinha até mesmo um invadiu sorriso meio infantil. Mas tinha um charme. Ela invadiu os pensamentos dele mas não conseguia captar muita coisa, mas sentia uma energia alegria, brincalhona e feliz. Nem notou que já o encarava por alguns minutos. Só percebeu quando seu olhar cruzou com o dele, e os dois sorriram um para o outro. Naquela hora sabia que se ainda fosse viva e tivesse um coração para bombear corpo por suas veias ficaria vermelha. Uma vampira vermelha mais que tolice.
                Saiu do balcão e decidiu ir para fora da balada, andar pelas ruas. Encontrar alguma vítima pelos becos mesmos. Estava com preguiça de fazer seus jogos de sedução. Ia começar a caminhar quando sentiu a presença e o perfume dele. Olhou para trás e notou que ele também estava na rua. E a olhava, com um misto de curiosidade e ao mesmo tempo achando a situação engraçada. Esperou alguns instantes para ver se ele falaria alguma coisa. Não falou nada, apenas continuou a encarando. Agatha então se virou e começou a caminhar. Foi surpreendida com o grito dele:
                -Ei espera!
                Ela virou novamente e o encarou. Sentiu vontade de correr e não se aproximar sabia que ele acabaria sendo a sua vítima daquela noite. Mas não queria que ele acabasse daquela forma, tinha uma energia tão vívida. Tão forte.  Mas antes que pudesse ignorá-lo e continuar em seu destino, ele já estava próximo de mais. Tinha um cheiro bom, uma fragrância amadeirada e ao mesmo tempo um cheiro único. Lançou a ele um olhar indagador.
                -Desculpa, te vi no balcão do bar e logo em seguida vi você saindo. Deixou seu copo de bebida no balcão sem ao menos beber um gole. Preocupei-me e resolvi ver se estava tudo bem.
                -Resolveu foi?
                -Sim, me desculpa por tanto mimimi.
                Agatha riu e aquela risada seria a primeira daquela noite.
                -Então?
                -Estou bem, só não estava gostando das músicas.
                -Entendi, mas existem muitos raps bons.
                -Sei lá, acho pouco provável eu gostar.
                Agatha estava em alerta, pensando no que estava fazendo, conversando sobre música com um garoto humano. O que ela estava pensando. Ficou distraída por um tempo e viu que ele continuava parado olhando para ela.
                -O que foi? Já não falei que estou bem? Agora pode voltar para lá e se divertir com seus amigos. Tem amigos lá te esperando não?
                -Meu nome é Gabriel e o seu?
                -Agatha.
                -Ei posso andar com você?
                Quando Agatha percebeu, já tinha dito sim para ele e os dois conversaram a noite toda. Gabriel era engraçado, inteligente, falava de todos os assuntos, sem medo e sem pudor de dar sua opinião sobre os assuntos. A vampira não entendia como seu poder de deixar as pessoas próximas a ela desnorteadas não causava efeito nenhum nele. Isso a intrigava, e o que mais a intrigava ainda era o fato de estar se divertindo tanto que parecia uma mortal normal com sentimentos e vontades humanas. E foi nessa hora que sentiu medo e confusão e que também se lembrou dos motivos pelos quais se tornará vampira. Ele era homem e não podia se dar ao luxo de confiança. E mesmo que pudesse nas suas condições e sua maldição, não podia se permitir ter amigos. O caminho que tinha que trilhar era só.  Seu destino desde que fora mordida. E não podia fugir do destino.  Como para ressaltar isso escutou um choro e um pedido de socorro, vindo de um prédio próximo a rua que caminhava. Claro que o garoto não ouvira nada, pois não tinha a audição ampla como a dela de vampira.
                Olhou para ele e sorriu mais uma vez.
                -Escuta, preciso ir agora, mas obrigada por passar a noite caminhando comigo.
                -Gostei muito de conversar com você também. Me passa seu telefone para que a gente se encontre por ai, qualquer dia desses.
                -Não.
                -Por quê?
                Agatha ia responder, mas os gritos e pedido de socorro estavam mais constantes, para não demorar acabou passando o número para ele e para sua surpresa o número certo. Sim estava enlouquecendo. Só podia ser isso.
                Esperou ele se afastar pelas ruas e quando viu que ninguém mais a observava escalou o prédio, até chegar à janela de onde os gritos vinham. Quebrou o vidro da janela com apenas um murro e entrou.  Ficou horrorizada com a cena que viu.  Uma mulher amarrada no sofá, completamente nua e dois homens a torturando. Olhou aquilo com verdadeiro ódio e nojo e mais uma vez voltou a sua realidade. O Gabriel e as horas que passou ao lado dele já pareciam distantes, vividas em outros séculos. Enquanto sua fúria era despertada, deixou suas presas afiadas crescerem e em um sussurro disse:
                -Boa noite! Não me convidaram para a festa?
                Os dois homens se sobressaltaram assustados.  Um deles fez até o sinal da cruz como quem havia acabado de ver um fantasma, ou pior que fantasma. Pois a mulher na frente deles parecia um demônio com olhos que pareciam duas labaredas em chamas, e presas pontiagudas saindo dos lábios. O corpo era de uma mulher normal e bela. Ela vestia uma saia de sarja do exercito e uma blusa branca tomara que caia.
                -Se não fosse um demônio, eu até te comeria belezura! – um dos homens mesmo com medo gracejou.
                Agatha correu até ele e o segurou pela camisa, o pendurando no ar. Viu que ele tremia de medo e seus olhos estavam apavorados.
                -Na verdade, você é a comida aqui. Mas é tão nojento que pode causar indigestão.
                Soltou-o, o deixando cair no chão fazendo um pequeno baque. Ela abaixou e olhou para ele uma última vez, com suas duas mãos o segurou pela cabeça e com um movimento rápido e preciso girou a cabeça dele cento e oitenta graus, deixando o corpo já sem vida tombar de vez no chão.
                Levantou para cuidar do segundo e notou que ele tremia em um canto escuro da sala, sentiu o cheiro de urina e gargalhou.
                -Está com medinho valentão?
                E antes que ele pudesse responder foi até ele e cravou suas presas em sua jugular. Sugando todas as gotas daquela vida miserável. Os dois homens estavam mortos, soltou a mulher e com seus poderes hipnóticos fez com que ela se acalmasse e fez com que a mulher achasse que tudo tivesse sido um pesadelo. Livrou-se dos corpos e saiu para o fim da noite. Tinha que se apressar para um dos seus esconderijos, pois logo amanheceria. Sabia que Daniele reprovaria ao saber que ela não tinha transformado a mulher em vampira. Mas estava farta daquilo. Farta daquele destino miserável.  
                E mesmo sendo estranho sentiu saudade do inicio da sua noite e daquele menino.  Talvez nem todos os homens de fato fossem monstros. Talvez tivesse alguns poucos com alguma bondade, alguns que ainda não tivessem sido corrompidos pela própria espécie chamada humanidade.
                Agatha voltou à realidade do seu quarto, e viu que mais uma vez tinha mergulhado na lembrança da noite em que conhecerá aquele menino. Pegou seu celular e olhou, mas ele não tinha ligado. Ou mandando mensagem. Talvez fosse melhor assim.
                O destino muitas vezes era cruel e por mais que se tentasse fugir, acabamos sempre caindo em seus braços.

9 comentários:

  1. Gostei desse. Muito bom.^^ Prefiro vampiros assim,rs

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  2. muto bom , gosto muito desse tipo de leitura. parabéns.

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  3. Olá Camila, é o Caio, do Carpe Noctem.
    Gostei bastante do conto: tem trama, várias reviravoltas, que prendem a atenção,mas o professor de português chato que sou não se controla: você inverteu alguns tempos verbais, pondo verbos no futuro ( final rá) ao invés de pretérito mais que perfeito (final ra); trocou mas por mais umas duas vezes, são coisinhas que prejudicam um ponto o resultado final; e a citação que abre o conto: The Killing Moon, certo? abr.

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    1. Olá Caio, tudo bem?
      Obrigada pelos elogios e pelas críticas também, eu tenho um sério problema com tempos verbais. Mas tenho tentado melhorar minha escrita.
      Valeu pelas dicas.!
      Sim a citação dos três partes são trechos da música The Kiling Moon Do Echo And The Bunnymen.
      =)

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