sexta-feira, 30 de maio de 2014

Convite á uma dança por Camila Bernardini





              Ele acordou com a luminosidade da lua que batia em seu rosto, clareando um pouco daquele breu onde se encontrava. Seus pensamentos ainda estavam meio desconexos, não tinha muita certeza de onde estava. Sua cabeça latejava insistentemente, o que o fez lembrar-se da quantidade absurda de vinho que havia ingerido durante o dia, nunca fora de beber daquela forma, mas naquele dia em especial sentiu que somente com a ajuda do álcool conseguiria enfrentar seus medos e anseios que o aguardavam aquela noite. Sim, Marcelo se sentia um tolo por sentir medo de se encontrar com uma mulher. Mas ela era tão diferente, exercia nele algo que não saberia explicar, um domínio completamente estranho.
                Marcelo apalpou as mãos no chão onde se encontrava deitado e pode sentir a grama que o pinicava, foi então que lembrou que após as taças vinho, havia ido se deitar no pequeno jardim da sua casa. Ele adorava esse contato, mesmo que mínimo contato com a natureza. Lembrava-se de ter ficado deitado admirando o fim da tarde e provavelmente adormecera.  Assustou-se, será que no sono perderá o horário de se encontrar com Agatha? Sentiu um leve tremor em seu corpo percebendo como esfriará com a chegada da noite.  Afastou seus devaneios, e apressou-se para dentro de sua casa.  Ao entrar, olhou para o pequeno relógio pendurado na parede da sua cozinha, os ponteiros mostravam que já passava da meia noite.   Ele ficou assustado com o tempo que havia adormecido e porque também tinha perdido o seu encontro. Retirou o óculos do seu rosto na vã esperança de que as lentes tivessem embaçadas e que os ponteiros de seu relógio indicariam ser mais cedo. Ao olhar novamente viu que não se enganara e realmente estava perdido.
                Olhou então para a pequena mesa de sua cozinha, onde entre diversas coisas espalhadas encontravam-se as anotações que fizera para Agatha na noite um anterior. Ela tinha o procurado no inicio da semana e dito que estava escrevendo um livro e precisava da opinião dele sobre o andamento. E essa noite iam se encontrar justamente para que ele mostrasse as anotações que ele fizera, ajustando algumas partes. Ele não a conhecia muito bem, tinha a visto apenas algumas vezes. Reconhecia que era uma mulher linda e diferente de todas que já havia encontrado por ai. Ele que era tão espontâneo e comunicativo, quando estava diante dela ficava paralisado, congelado, uma mistura de timidez com fascínio. Era como se entrasse em transe, sim essa era uma palavra precisa para o que sentia. Suspirando deixou a cozinha entrando por uma pequena porta que o levaria a sua sala de estar.
                Sua sala era pequena e confortável, no canto próximo a mesa perto das escadas, seu abajur estava aceso. Achou estranho, pois quando saiu para o jardim ainda era dia. E ele não costumava deixar as luzes acesas nesse período, porém como havia bebido um pouco mais resolveu levar em desconsideração aquele pequeno fato. E foi então que percebeu um leve movimento a sua direita. Olhou apressado e lá estava ela sentada no seu sofá, com a postura ereta e um sorriso nos lábios continauava em silêncio o observando. Após alguns segundos Marcelo não conseguiu mais sustentar o olhar, desviando o para outro ponto.
                Agatha levantou do sofá com leveza, parecia que seus pés mal tocavam o chão, parecia flutuar. Nessa noite ela estava linda e deslumbrante. Vestida uma calça preta de vinil, espartilho vermelho que definia bem sua cintura. Seus cabelos soltos caiam por seus ombros nus. E em um quase sussurro ela quebrou o encantamento do silêncio:
                -Ora, ora. Pensei que nunca mais fosse acordar e sair daquele jardim.
                Marcelo não conseguiu responder nada e diante de sua quietude ela se aproximou um pouco mais dele e disse:
                -Nunca deveria ter me deixando esperando.
                Gaguejando ele a respondeu:
                -Peço desculpas, realmente peguei no sono e. e
                -Sono, quer dizer que sou tão entediante ao ponto de sentir sono em quanto aguarda as horas que faltam para me encontrar?
                -Não foi isso que quis dizer...
                -Bom não me interessa que quis dizer, vim buscar as anotações e ajustes que fez para mim. Disse que estariam prontos hoje, espero que tenha feito.
                -Sim está, vou buscar.
                -Não, espere, antes de ir buscar... gostaria de ouvir uma música para relaxar.
                Marcelo prontamente foi até o aparelho de som da sua sala, deixando rolar as músicas que tinha escutado um pouco mais cedo. E quando novamente fez menção de ir buscar suas anotações, Agatha o segurou pelo pulso, o contato da pele dela era tão frio, e o corpo dele estremeceu ao mesmo que assustado e com vontade de sentir um pouco mais. Ela foi se aproximando lentamente do corpo dele e com os lábios já quase colocados em seu ouvido disse:
                -Dance comigo Marcelo e não tenha medo.
                O coração dele acelerou, bombeando sangue por todos os lados, deixando seus sentidos muito mais aguçados. Ele sentia medo, mas um desejo tomou posse do seu corpo e aproximação ainda maior. Marcelo colocou a mão em uma das cinturas de Agatha e juntos giravam pela pequena sala. Nem tinha se dado conta que a música tinha acabado e que continuava a girar e girar.
                Lentamente Agatha foi parando a dança e se afastou. Olhou para ele e sorriu.
                -Vamos para o seu quarto?
                -O que?
                -Agora, vamos.
                Os dois subiram as escadas que levava ao segundo patamar da casa, e lá apenas a porta do quarto de Marcelo. Quando ele abriu para entrar, seus olhos percorreram toda e extensão do local com uma mistura de choque e excitação. O quarto estava iluminado por várias velas coloridas e acesas por todos os cantos.  Espalhadas sob a cama várias rosas vermelhas ainda em seus galhos cheios de espinhos.
                Agatha olhou para ele e com ar divertido disse
                -Gostou?
                -Sim, mas não entendo...
                Ela não deixou que ele terminasse a frase e o beijou.  O beijo apurou ainda mais os sentidos de Marcelo e ele se por inteiro. Agatha subitamente se afastou dele e com suas pequenas mãos rasgou sua camisa, o deixando com o peito nu.
                -Deite-se na cama.
                - Mas Agatha, as rosas ainda estão cheias de espinhos...
                -Você vai ficar com medo de uns espinhos e deixar de sentir o que posso te proporcionar?
                Marcelo então deitou na cama e sentiu os espinhos que lhe feriam as costas, causando um pequeno incomodo.  Mas não reclamou com medo de estragar aquele momento com que tanto sonhou. Sentiu uma pequena ardência em seu peito e notou que Agatha derrubava algumas gostas de cera quente da vela em seu peito.  Mas a dor não era de todo ruim, e ele fechou os olhos para sentir essa linha tênue e fina entre a dor e o prazer. Sentiu quando ela subiu por cima dele e foi encaixando os corpos. Sua respiração ficou ofegante, e cada vez
sentia um prazer ainda maior.  Os lábios dela percorriam seu peito nu, e seu pescoço. Ela parou ali por um instante e ficou imóvel. Então sem que ele esperasse, Agatha cravou os dentes no pescoço dele extraindo para si o néctar delicioso do qual era preciso para sua sobrevivência.  Ela parou apenas quando percebeu que ele já havia desmaiado.  Por uns e segundos ainda o ficou olhando e um sorriso frio apareceu em seu rosto. Ela pegou algumas das velas acesas no quarto e as derrubou acidentalmente em alguns papéis e outros objetos do quarto. Aguardou em quanto às chamas se espalhavam pelo quarto, e quando a fumaça negra e densa começou a se espalhar pelo recinto fechou a porta do quarto.
                Desceu ainda as escadas vagarosamente e ao chegar à porta de saída da casa lançou uma última olhada ao rádio de Marcelo, e na mesma hora começou a tocar. Agatha riu, acenou um adeus a casa e saiu para a escuridão da noite.
vampi

terça-feira, 27 de maio de 2014

Selo eterno por Camila Bernardini



Elisa olhou para o pequeno relógio na escrivaninha do seu quarto e ficou abismada. Já passava das três da manhã e ela ainda não havia conseguido dormir. Levantou de sua cama indo direto ao espelho do seu guarda-roupa. Estava com uma aparência horrível, de cansaço.
- Droga!
- Falando sozinha Elisa?
Na mesma hora ela levou um sobressalto com um susto, não esperava a visita dele. Não naquela noite. Continuou a se olhar no espelho sem virar ou responder seu convidado. Estava confusa com tudo que vinha acontecendo. Sentiu quando ele se aproximou e tocou seus ombros e aquela sensação de êxtase que sempre vinha junto aos toques dele. Fitou mais uma vez o espelho. Somente o reflexo dela.
- Ainda não acredita no que me tornei não é?
Elisa respirou fundo, virou para fita-lo e disse:
- Não importa quem ou o que seja. Continuarei te amando.
O vampiro a fitou com olhos tristes. No rosto dele havia muita dor, dava para ver que lutava contra seus instintos para conseguir ficar ao lado dela. Mas tinha muito medo de machucá-lo e havia decido que aquela seria a última noite que ia vista-la.
Elisa percebendo que havia algo de errado no semblante dele o abraçou com força. E quando os dois estavam envolvidos naquele abraço, ela lentamente tentou beijá-lo. Douglas assustado e confuso a empurrou para longe. Lágrimas caiam do rosto dos dois.
- Por quê?
- È perigoso de mais menina
- Não me importo
-Você não sabe o que esta falando
Ela não o respondeu, apenas tocou a face do vampiro com suas mãos. Douglas fechou os olhos ao toque. E por um instante esqueceu sua nova natureza. Do lado de Elisa ainda podia se sentir um pouco humano. O perfume dela foi o inebriando e quando deu por si já estava a beijando. Um beijo longo, apaixonado. Ele sussurrou ao ouvido dela:
- Seus beijos são tão doces menina.
O sussurro no ouvido, o arrepio no corpo e o coração de Elisa fizeram com que ela tivesse plena certeza de que queria ficar ao lado dele para sempre. Viver aquele amor pela eternidade. Lentamente ela afastou os fios de seu cabelo do seu pescoço, olhou o vampiro demoradamente e pediu:
- Me transforma.
Douglas ainda a beijou por alguns instantes, a segurando com força. Lentamente o beijo foi passando para o conto dos lábios, o rosto, até pousar no pescoço. Com suavidade sua mordida. O beijo do vampiro, que selaria aquele amor pela eternidade.

Violet por Camila Bernardini



Sentada em uma mesa bem ao canto do bar Fênix, estava Violet sozinha, acompanhada por uma taça de vinho sempre cheia por um dos garçons. Olhava para as pessoas, a maioria acompanhada por amigos. Todas rindo, bebendo em suas mesas, algumas dançando ao som da banda que tocava ao vivo algumas músicas de classic rock. Sorria sozinha, ao lembrar-se da pergunta de um de seus antigos amigos da época de escola: “O que dói mais estar acompanhada e se sentir só ou realmente estar só?” Na época não soube responder, mas hoje entendia perfeitamente que muitas pessoas ao redor, muitos amigos para conversar e se divertir não queria necessariamente dizer que não era uma pessoa solitária. Dos seus amigos, quantos realmente a conheciam? Entendiam seus gestos ou procuravam saber seu passado? Quase nenhum deles sabia os poucos que sabiam eram pessoas que ela jamais retornaria a ver, pois à distância, o tempo e o amadurecimento pessoal de cada um fez com que tomassem rumos diferentes.
Conhecia muitas pessoas é verdade, mas na verdade ultimamente andava enjoada delas. Sabia que muitos mantinham apenas aparência e para não se sentirem totalmente sós em seu mundo de fantasia fingiam gostar uma das outras. Logo que Violet começou a conhecer as pessoas que freqüentavam a noite em Osasco, achou uma maravilha. Tantos estilos diferentes, punks, góticos, grunges, roqueiros, metaleiros. Mas todos pareciam ser unidos por irem ao mesmo lugar. Aos poucos foi vendo que não era bem assim, que no fundo uns se achavam melhores que os outros, falavam mal de amigos pelas costas. E essa hipocrisia foi a cansando tanto ao ponto de não saber em quem confiar, em quem eram as pessoas que realmente gostavam dela do jeito que era. Foi se afastando das pessoas até sobrarem poucas que realmente se importavam e procuraram saber o motivo do afastamento dela.
Depois de um tempo começou a andar sozinha pelas ruas de Osasco, procurava lugar onde teria apenas rostos desconhecidos para observar, assim como essa noite. Às vezes sentia-se triste, mas não importava. Era bem melhor assim do que viver e um mundo de ilusão para o resto de sua vida.
Um garçom aproximou-se para encher novamente sua taça, mas ela não queria mais vinho:
- Me traga um saquê com Kiwi, por favor!
- Como quiser senhorita!
O garçom afastou-se da mesa. Estava curioso em saber o que uma menina fazia sozinha em um lugar como aquele. Observou-a entrar e se encantou com o seu estilo, uma boina preta, que escondia um pouco de seus cabelos negros e cacheados que caiam cobrindo um rosto branco sem marcas. Olhos tão profundos na maneira de olhar, que pareciam se expressar sozinhos sem ajuda das palavras, quando queriam. Uma calça jeans preta colada ao corpo que delineavam suas belas curvas, um corpete preto com um decote que deixava quem visse com vontade de descobrir um pouco mais. Um longo sobretudo preto, e botas de couro de finíssimo salto completavam o vestuário da garota parecendo ser uma dessas meninas francesas do século 19. Mas não podia se dar ao luxo de ficar admirando os clientes daquele local, tinha que continuar o seu trabalho. Poucos minutos depois levou à bebida a mesa dela e se afastou, mesmo com uma imensa vontade de ficar ali e conversar um pouco.
Dentre a porta de entrada acabava de passar um homem, que muitas das mulheres ali presentes olharam, algumas discretamente outras sem ao menos se preocupar em disfarçar. Ele tinha quase 1,80, cabelos compridos e encaracolados, a pele morena, olhos de um castanho tão claro que pareciam transparentes e reluzentes. Escolheu uma das mesas do fundo do bar, perto de onde se encontrava Violet, que também ficou espantada com a beleza do homem a sua frente e com a elegância em que se vestia calça e camisa sociais pretas, e um, sobretudo de complemento. Violet sempre gostou de pessoas que sabiam se vestir. Observou o homem por um tempo, depois se distraiu novamente com o resto da movimentação do bar. A banda havia parado de tocar e no playback rolava algumas músicas dançantes dos anos 80, e muitos dançavam animadamente. A maioria dos freqüentadores daquele bar tinha por volta de 35 á 50 anos. Eram poucos os adolescentes que se aventuravam, a não serem aqueles que julgavam terem nascido na época errada como Violet.
- Aceita dançar comigo?
A voz a tirou do transe de observar as pessoas, nem acreditou que a pessoa que a convidava para dançar era o bonitão que entrara a pouco no bar. Sorriu a ele:
- Obrigada, mas prefiro ficar aqui e observar.
- Então você é uma observadora do comportamento humano?
- Digamos que não... Apenas gosto de olhar as pessoas, seus gestos, como agem, o que vestem. Às vezes essas coisas dizem muito sobre a personalidade delas.
- Interessante essa sua tese, então me diga: Pela primeira aparência, como acha que sou?
- Ah, assim é difícil dizer...
- Vamos lá tente.
- Não sei...
- Vamos fazer assim? Vou me sentar aqui, pediremos uma bebida. Você me fala um pouco de mim e eu digo um pouco de você certo?
- Certo! Mas antes qual o seu nome?
- Caio e o seu?
- Violet
- Nome curioso.
Caio chamou o garçom que veio os atender, ele ao ver sua pequena deusa acompanhada agora, sentiu um pouco de raiva confessava. Mas não podia fazer nada.
- Em que posso ajudá-los?
- Traga-nos vodka, pode ser Violet?
- Claro, pode sim!
Logo as bebidas estavam na mesa e enquanto os dois bebiam Violet começou sua análise:
- Bom Caio, você me parece ser uma pessoa sutil, que gosta de envolver as pessoas e com isso usa um pouco de seu mistério, alguém culto que gosta de ler, de boas músicas, de ambientes agradáveis que te façam se sentir livre. Romântico, engraçado, espontâneo e que como eu aprecia a verdadeira solidão.
- Nossa! Você faz psicologia?
- Não, ainda não. Mas pretendo fazer!
- Realmente deve, você tem talento nessa área.
- Agora sua vez...
- Certo Violet... Me parece uma garota inteligente,observadora, com uma saciedade sem fim por conhecimento, que sabe conviver sozinha.
- Coisas muito fáceis de saber, para qualquer um que observe um pouco.
Ele sorriu. Violet estremeceu ao vê-lo sorrir, não falou tudo que achava dele. Observou mais coisas como, por exemplo, a autoconfiança que ele possuía por ser belo e com isso ter todas as mulheres que queria aos seus pés. Mas existiam coisas mais importantes que isso, e um dia ele teria que aprender a lição. Quanto maior a altura, maior a queda. Cansou de conversar com aquele belo estranho e, sobretudo dos olhares de inveja das outras mulheres ali.
A banda voltará a tocar e começara com uma música lenta Me e My Woman do André Cristovam. Caio mais uma vez convidou Violet para dançar e ela mais uma vez recusou:
- Uma pena eu não poder ter a companhia da dama mais bela dessa noite em uma dança.
- Obrigada pelo elogio cheio de exageros! Mas não caio fácil em cantadas.
- Vou dar uma volta pelo bar, espero podermos conversar ainda essa noite.
Violet apenas o olhou, sem responder. Sorriu. Sabia muito bem o que ele quis dizer com conversa, mas francamente tudo que queria era continuar a curtir sua noite. Voar livre entre as pessoas, sentir a solidão pulsar e mesmo assim poder saber que de fato não era de toda infeliz. Viu algumas pessoas dançando, e mesmo antes sem vontade, via que seu corpo lentamente se movia no ritmo da música. Deixou fluir seu desejo de dançar, levantou-se da cadeira, tirando seu sobretudo e o pondo na cadeira em que estava. Dirigiu-se até o local onde as pessoas dançavam. Fechou os olhos só assim podia sentir melhor a música e fazer movimentos harmoniosos com as notas. Nessa altura, já era outra música do Aerosmith. Lentamente dançou, esquecendo-se das pessoas que estava por perto. Nesses momentos era como se existisse apenas ela e a música. Algumas pessoas pararam para vê-la dançar, tamanha leveza. Caio um pouco afastado, encostado na mesa do bar a observava. Sabia que era uma mulher diferente das outras, que acima de qualquer coisa tinha um espírito livre, e nos tempos de hoje era raro encontrar alguém que realmente desfrutasse da verdadeira liberdade. Caio viu também estampado nos olhos do garçom uma profunda tristeza e sabia o por que.
- Por que não para um instante para vê-la dançar?
- O que?
- Sei que é isso o que deseja!
- Olha aqui, como você pode saber o que desejo?
- Só acho que você deveria aproveitar um pouco mais para fazer aquilo que quer. Às vezes damos pouca importância para nossos sentimentos e somos engolidos pela escravidão dos sentimentos.
- Olha aqui, se eu parar para olhar ela ou quem quer que seja dançar, serei demitido por não cumprir meu papel.
- Qual o seu papel?
- Aqui de garçom, tenho que trabalhar.
- Esse seu trabalho vale a pena para que não se liberte?
- O que isso tem haver?
- Quer saber, deixe para lá.
Caio pediu a ele duas garrafas de smnorff, e se afastou do garçom, sabia que existiam pessoas que nunca deixariam se libertar delas mesmas por antigos dogmas e regras, e ainda o famoso e irreal certo e errado, bem e mal. Foi até onde as pessoas dançavam e abraçou Violet, oferecendo uma das garrafas. Na hora ela se assustou, mas ao vê-lo ficou um pouco mais calma. Sorriu agradecendo a bebida. Continuaram ali por mais uns dez minutos dançando e voltaram a sentar-se à mesa.
-Sabe Violet, o que mais admirei em você?
- Não, o que seria?
- Seu jeito espontâneo, sua liberdade que tenho certeza que ninguém tira.
-Realmente aprendi o real significado se ser livre... e como diria Crowey: faça o que tu queres pois é tudo da lei.
- Pena que pouquíssimas pessoas pensam assim.
- Às vezes gostaria de realizar o desejo dessas pessoas e mostrar que a única coisa que as impedem de realizar um sonho é medo da mudança, de saber que mudarão algo na vida.
- Olha de todas eu não sei, mas você pode começar hoje mudando o de uma pessoa.
- Quem?
- Está vendo aquele garçom?
- Sim?! Mas no que eu contribuiria para o sonho dele?
- Vamos dizer que ele está apaixonado por você, mas tem medo de vir aqui dizer e perder o emprego caso você se irrite com ele e acabe se queixando para alguém, ou tem medo de se aproximar e deixar o que é obrigado ao trabalho dele fazer.
- Eu não entendo... E o que eu posso fazer para mudar?
- Vá até ele e o beije, claro se for se sentir bem fazendo isso.
- Mas ele pode perder o emprego .
- Mas pense ele não trabalha com o que gosta, além do mais está deixando de fazer coisas que gostaria preso a algo que não serve a ele. Violet a única coisa que você faria seria deixá-lo feliz e ajudar a colocá-lo de volta na sua verdadeira trilha.
Violet não respondeu Caio. Levantou mais uma vez da mesa e foi até o garçom que nesse momento servia uma mesa. Ele a viu se aproximar:
- Deseja algo senhorita?
- Sim, mas antes me diga uma coisa: qual o seu nome?
- Ianadori.
- Que nome interessante.
- Então o que você quer?
Violet se aproximou dele e o beijou. Ianadori se assustou com o inesperado beijo, mas correspondeu. Os lábios dela eram de uma maciez que deixava o beijo muito melhor do que já podia estar. Ele acabou derrubando a bandeja que segurava, sem já se importar com o que aconteceria assim que aquele momento mágico acabasse. Mas nem gostava do emprego mesmo, o que perderia? Nada, pelo contrário, tinha ganhado um beijo que ficaria para sempre gravado na sua lembrança. Um beijo doce, perfumado, que o tinha libertado. Ao fim do beijo, o gerente do bar já estava ao lado deles o olhando.
-Ianadori venha comigo agora!
Ele se foi, mas foi sorrindo. Violet pagou sua conta e saiu do bar, logo atrás vinha Caio que a olhou e sorriu:
- Você realmente é um anjo!
- Sou? Não estou vendo asinhas aqui...
Os dois riram e seguiram pelas ruas, sentindo a brisa da madrugada.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

No fim do corredor por Camila Bernardini

    

     Todos os sábados Juliana ficava até mais tarde no prédio em que trabalhava. Ela gostava de lá, da altura, da visão que podia ter da cidade. Em um desses sábados estava sentada em sua cadeira terminando uma planilha, olhou no relógio e viu que já era mais de nove horas da noite. Assustada com o horário e com o tempo que tinha voado, finalizou sua planilha o mais rápido que pode para poder ir embora.
                Ao chegar ao elevador ficou frustrada, pois o mesmo não estava funcionando, e ela teria que descer os cinqüenta andares de escada até a portaria. Com um resmungo que foi mais um xingo, começou a descer as escadas de emergência. Tudo estava sem luz, e ela teve que acender a luz do seu celular para enxergar os degraus à frente.  Mesmo assim a luz era pouca e tinha que descer lentamente, com medo de tropeçar.
                Quando estava na metade do caminho, só tinha mais alguns andares para descer, viu uma pequena luz vinda do corredor do décimo sexto andar. Intrigada com aquela luz e curiosa como ela resolveu seguir em direção ao corredor para ver se tinha mais alguém no prédio. Silenciosamente chegou ao fim do corredor, onde encontrou uma porta semi aberta. De dentro havia um som baixo tocando, e um aroma doce. Aquele aroma, aquela música, tudo foi despertando um desejo estranho nela, de abrir a porta, e ver o que de fato acontecia ali. Colocou a mão na maçaneta para terminar de escancarar a porta, a mesma estava fria e com o contato com sua pele fez com que ela tivesse arrepios. Seu corpo era uma mistura de arrepios, atração pelo desconhecido e sua mente parecia insana tentando lutar contra a loucura que era invadir uma sala desconhecida somente por causa de sons e cheiros que vinha dela.  Mas o impulso e a vontade falou mais alto e ela terminou de escancarar a porta.
                Dentro um pequeno escritório, sem muita mobília, mas aconchegante e de bom gosto. Atrás da mesa ao fundo da sala, uma cadeira. E aparentemente um homem sentado nela, de costas para a porta olhando para a parede.  Juliana ficou com a respiração entrecortada e de repente sentiu uma ponta de medo.  O que aquele homem pensaria ao se virar da cadeira e ver uma mulher parada em sua sala. Uma total desconhecida? Notou que ele ainda não havia se movido, talvez estivesse dormindo.  Foi então que notou a garrafa de vinho e duas taças sob a mesa. Ele deveria estar esperando alguém. Virou-se silenciosamente para caminhar de volta ao corredor quando ouviu:
                - Boa noite
                A voz dele era doce, quase hipnótica. Ela olhou para o homem a sua frente e observou suas feições, pele morena, era magro e tinha um rosto quase infantil. Seus olhos brilhavam de forma atraente e convidativa. Juliana só podia estar enlouquecendo, parada diante de um desconhecido. O observado sem dizer uma única palavra. Desviou o olhar para o restante da sala.  Foi então que notou alguns incensos queimando em uma estante, e um pequeno rádio portátil que continuava tocando um som suave.
                Ela pensou em apenas pedir desculpas para o homem a sua frente e sair da sala, mas quando olhou novamente se assustou, ele não estava mais na cadeira. Mas que horas teria se movido? Saído do lugar? Será que havia sido nos pequenos segundos em que estivera paralisada olhando a estante? Impossível. Nos devaneios de sua mente, sentiu quando uma mão pousou em seus ombros e quase gritou de susto. Não precisava se virar para saber, tinha certeza de que era o mesmo homem. Ele sussurrou em seus ouvidos:
-Não precisamos de palavras. Apenas sinta o desejo que você esta sentindo. È o mesmo que sinto e devemos nos entregar a ele.
                Juliana continuou parada, não conseguia falar. Sua mente estava distante e seu corpo sentia somente o desejo daquele momento. A mão daquele homem deslizou de seus ombros e começou a acariciar seu pescoço e logo seus seios.  Ela estava em êxtase, não lembrava mais onde estava, quem era. Só queria deixar fluir o calor da emoção. Ele lentamente desceu o zíper do seu vestido e começou a retirá-lo.  Ficando apenas de lingerie. Ela queria se virar, olhar nos olhos dele e o beijar.  Mas ele não permitiu. Conduziu-a para um dos cantos da sala e pressionou o corpo dela contra a parede. Suas mãos acariciavam cada centímetro do corpo dela. Lentamente ele a beijou na nuca e foi descendo seus lábios pelo restante da coluna e subindo novamente. Juliana gemia de prazer. Não lembrava mais quem era ou o que queria. Só queria se entregar aquele momento. Quando ele voltou a percorrer o caminho da coluna para a nunca, se manteve no pescoço dela. Com uma das mãos segurou o cabelo dela e com força o puxou para trás, fazendo com que ela ficasse com a cabeça arqueada para trás. Pousou seus lábios no pescoço dela e ali ficou brincando por muito tempo, notando que ela estremecia a cada beijo.  O calor emanava dos dois corpos, e quando ele percebeu que ela se encontrava completamente relaxada. O beijo no pescoço se transformou em uma mordida, há principio um pouco dolorosa.  Juliana sentiu que os dentes dele havia perfurado sua pele, mas na mistura da dor e do prazer sentiu que o seu momento chegará e explodiu em um orgasmo único, em quanto ele continuava a mordendo.
A dor era insignificante comparada a seu prazer e o deixou ali, se saciar. Estava se sentindo fraca, perdendo a visão. Tudo escurecia ao seu redor. Só as sensações continuavam intensa, seu corpo que tremia, aquela velho e conhecido formigamento por suas pernas e braços e o frio da sua barriga. Sua pele sentia o quanto o corpo dele era gelado, sua audição ouvia somente o som de própria respiração. Mas nada disso importava, só queria estar ali para sempre e continuar sentindo o que aquele homem era capaz de fazer com ela.  Aos poucos toda a sensação foi sumindo, seus olhos se fecharam e um enorme sono a atingiu. Ia dormir ali mesmo encostada naquela parede. Sua mente se aquietou e tudo ficou parado e quieto.
As luzes entravam pela janela, clareando o prédio outra vez e assustada Juliana acordou. Estava deitada sobre sua mesa. Tinha pegado no sono e adormecido ali? Estranho. Quando sua mente começou a clarear lembrou-se da noite anterior, quando ia embora e os elevadores não funcionavam. A sala, os cheiros, os sons... Riu de si mesma tudo não passará de um sonho então? Levantou para ir até o banheiro lavar seu rosto. Quando lá chegou se olhou no espelho e riu novamente. No seu pescoço de forma discreta havia há marca de dois dentes cravados. Uma marca pequena, mas que mostrava que havia sido real.
                Com o coração aos pulos correu do seu andar, correndo as escadarias para chegar ao andar esperado. Chegando ao décimo sexto andar avistou o corredor que chamará sua atenção na noite passada. Correu até o fim dele, mas dessa vez a porta estava fechada. E não havia sons do outro lado. Notou em tão uma pequena placa na porta com os dizeres: “Robert Cordeiro- Advocacia”. Ela bateu na porta com força, na esperança de ver o mesmo homem abrir a porta novamente. Mas ninguém respondeu.
                -Moça, esse escritório esta fechado há anos desde que o antigo dono faleceu.
                Juliana se assustou, nem notara que alguém passava no corredor. Viu o homem dos seus sonhos ali. O mesmo que a beijará na noite anterior. Mas já pensando que havia enlouquecido assentiu com a cabeça para ele e voltou pelo corredor para seu trabalho.

O homem esperou ela desaparecer de vista, destrancou a porta e entrou na sala. 

O desejo de uma dança por Camila Bernardini

Sábado à noite. Muitos se arrumando para sair e curtir as mais diversas baladas da vida noturna de São Paulo. Eduardo estava inquieto, necessitava sair. Mas nenhum de seus amigos pareciam dispostos a sair àquela noite. Decidiu ir sozinho então ao Aeroflith. O lugar era legal e poderia encontrar algum conhecido por lá. Ou quem sabe até mesmo fazer alguns novos amigos.
Chegando à casa noturna, tratou logo de correr para o piso superior. Onde ficava a pista de dança. Tudo que ele queria era dançar aquela noite. Porém ao chegar à pista, notou que as pessoas faziam uma roda e quase em transe observavam alguém que dançava dentro da roda. Eduardo com dificuldade começou a ultrapassar as pessoas para ficar mais próximo e ver o que de fato ocorria. Quando conseguiu abrir caminho e chegar viu o que chamava a atenção de todos. No meio daquela roda havia uma mulher dançando. Dançava de forma sublime e harmoniosa. Movimentos em sincronia perfeita. Ao som da música do the smiths. Ela vestia um vestido vermelho. Em cima estilo corpete trançado em barbatanas. A parte de baixo uma saia mais solta, com pontas em renda preta de tule. Por cima do vestido um bolero preto, com as mangas de pontas também em tule. Em seu pescoço uma gargantilha preta com pequenos detalhes em vermelho. Vestia-se como uma verdadeira deusa. Sua roupa, seus movimentos hipnotizavam todos ali.
Eduardo sentiu um imenso desejo de dançar com aquela dama de vermelho, tão bela. Tão atraente. Tão senhora de si. Mas claro não era louco de se aproximar, ainda mais com tantas pessoas em volta também a observando. A desejando. Ele ficou ali apenas apreciando-a dançar. Quanto tempo ficou assim, não sabia dizer. Só conseguiu sair do lugar, quando percebeu que ela suavemente parava os movimentos e terminava sua dança. E não só ele, mas todos pareciam dissipar da hipnose em que se encontraram.
Ela caminhou saindo da pista e indo ao piso de baixo, onde tinha o bar e alguns sofás e pufes para que os convidados da casa pudessem descansar. Sentou-se em um desses sofás e ficou observando as pessoas ao redor. Até que viu Eduardo em um canto próximo a olhando. Olhou para ele e sorriu. Eduardo sentiu um calafrio percorrer a espinha do seu corpo. Era um sorriso quase inumano. Resolveu aproximar-se dela:
-Olá, sou Eduardo
- Agatha!
Única palavra dita por ela. Nem um sorriso convidativo. Nem uma conversa formal. Ele se achou um idiota. Como poderia ter achado que uma mulher como aquela daria confiança á ele. Em devaneios, estremeceu, quando novamente ouviu o som daquela dama:
- Venha.
A seguiu sem questionar. Desceram as escadas do lugar, e começaram a caminhar em silêncio pela rua. Até que Agatha parou em um casarão velho, que mais parecia abandonado e disse:
- Vamos entrar.
- È sua casa?
- Não.
- Invadiremos a casa?
- Sim
- Mas...
- Não gosto de covardes.
Agatha pulou o muro e entrou. Como uma gata. Não parecia estar de salto e com aquele vestido. Eduardo se sentiu envergonhado e humilhado sendo chamado de covarde por uma completa desconhecida. Mas seu desejo por ela era maior do que qualquer coisa. E assim, como um fantoche, pulou o muro atrás dela.
Adentraram a casa, que estava empoeirada, cheia de teias de aranha e parecia muito velha. Com uma estrutura frágil e antiga. Dentro de um pequeno cômodo havia uma cadeira e estranhamente uma corda pendurada em forma de forca amarrada nos estrados do teto.
-Sinistro.
- O que disse?
- Sinistro...
Agatha gargalhou e seus olhos brilharam de tal forma que Eduardo sentiu pavor.
- Linguajar engraçado o seu.
Eduardo enrubesceu. Mas logo já estava atônito novamente. Agatha havia subido em cima da cadeira e pendurado a corda no próprio pescoço.
- O que está fazendo?
-Vou dançar para você. Esse não é o seu desejo?
- Desce daí, você pode se machucar.
- Já disse que não gosto de covardes. Cale á boca e aprecie.
Ela dançava sensualmente. Mesmo sem nenhuma música. Eduardo embora excitado com a dança temia que ela perdesse o equilíbrio e caísse da cadeira, ficando apenas pendurada pela corda. Foi com grande alivio que após alguns minutos que pareceram uma eternidade, ela desceu da cadeira. Mal teve tempo de respirar de conforto por ter acabado a maluquice quando gritou. Nem notara que Agatha se aproximara dele, apenas sentiu a mordida em seu pescoço.
- Ai.
- Que foi donzelinha o machuquei?
- Não!
Agatha ria sem parar, como uma maluca.
- Suba na cadeira Eduardo. Dance para mim. Ah não se esqueça de colocar a corda em seu pescoço.
- Não vou fazer isso
- Claro que vai!
Eduardo então sentiu medo, mas resolveu obedecer aquela maluca. Subiu na cadeira. Porém o medo o paralisou ali. Não conseguia dançar, pegar a corda e por em seu próprio pescoço. Ela então se juntou a ele, subindo na cadeira. E o ajudou gentilmente a por a corda na cadeira. E o beijou. Um beijo intenso e sensual. Eduardo já se esquecia de como se encontrava, e entregava-se completamente aquela estranha. Foi então que ela parou o beijo e cravou seus dentes no pescoço dele. Com tal intensidade. Mas ele estava tão anestesiado pelo beijo que não percebeu o que acontecia. não percebeu que cada gota de seu sangue era sugado lentamente o levando para o abismo da morte. Foi apenas enfraquecendo e quando suas pernas falharam, caiu da cadeira. Ficando apenas pendurando pela corda no pescoço.
Agatha desceu da cadeira, olhou aquele corpo morto, sorriu. E saiu da casa.

A lança do destino Cap 8



Sarah e Lucio estavam do lado de fora alimentando o cavalo e conversando ainda sobre as coisas que ela tinha visto. Cassius despertou do sono e ouviu vozes do lado externo. Uma reconheceu, e a outra não. Ele então saiu para procurar e viu Sarah conversando com um homem. Ficou intrigado, pensando no que aquela mulher misteriosa estava aprontando dessa vez, mas apenas disse:
         - Vamos prosseguir viagem?
         - Ora, ora. Veja quem acordou. Esse é Lúcio o dono da cabana.
         -Olá!
         - Oi, perdoe-nos por ter usado sua cabana.
         - Sem problemas, vocês prosseguem viagem para que lugar?
         - Roma!
         - Vão precisar de comida. Vou preparar algo para que vocês leve no caminho.
         Os três entraram novamente na cabana. Enquanto Lucio preparava algumas frutas e pães, notou que Sarah e Cassius pareciam dois seres que se completavam. Como se um fizesse parte do outro. Os movimentos dos dois pareciam sincronizados. Sorriu talvez um dia ainda os dois se apaixonassem. Talvez.
         Seus pensamentos foram despertos pelo barulho de trotes de calos, e gritos de homens.
         - Droga, será que todo mundo quer nos matar?
         -Não vieram atrás de nós, vieram atrás de Lúcio.
         - Ótimo assim temos tempo de fugir.
         - Não Cassius temos que ajudá-lo.
         A cabana já estava cercada por alguns homens. Os mesmos que haviam matado Ìsis. Decidiram vir atrás de Lúcio para que não houvesse testemunha do que tinham feito. Para que o serviço fosse completo também caso o marido daquela bruxa herege fosse também um adorador do demônio.
         Algumas batidas se fizeram escutar na porta. Os soldados aguardavam alguma resposta.  Mas tudo que vinha de dentro da cabana era o silêncio. Não fosse o cavalo ali fora acreditariam que o lugar estava abandonado. Não confiaram muito na palavra do velho homem que os informou de que havia vendido a cabana para o marido da bruxa. Bateram mais algumas vezes na porta e já estavam prontos para arrombar e acabar com aquilo de uma vez, quando forte estrondo arremessou a porta contra eles derrubando o soldado mais próximo de cima de seu cavalo. Pedro mesmo tendo caído, nesse golpe inesperado não se deixou abater. Levantou depressa, recuperou sua espada e olhou em direção onde antes havia uma porta. Não era o homem que procuravam, mas mesmo assim deveria morrer por ter ousado atacar homens da igreja. Homens de poder absoluto que só faziam o bem. O que Deus pedia que eles fizessem para não corromper o mal sobre a terra. Os outros soldados continuavam parados, aguardando ordens. Mas não tiveram. Apenas viram Pedro com passos firmes ir em direção ao homem que continuava parado os olhando. Nenhum movimento. Apenas parado como se zombasse deles. Os desafiasse. Quando o soldado ficou a cetimentros do vampiro e pode olhar nos olhos dele, deu um sorriso malicioso. E em um grito quase já de vitória levantou a espada tentando acertar Cassius, que na mesma hora reagiu e com seus reflexos evitou o golpe certeiro. E foi a vez dele atacar, com a espada em mãos feriu um golpe em Pedro. Os dois então começaram um duelo de espadas, digno de se ver. Pedro era humano, mas tinha habilidades esplendorosas na espada. Desviava com habilidade e rapidez necessária. E não sabia o que de fato era seu inimigo. Para ele era apena um homem desrespeitando as leis da igreja.
         Cassius golpeava co9m força e muitas vezes o tinir da sua espada ameaçava acertar o inimigo. Enquanto lutavam Pedro ordenou aos outros homens que entrassem na cabana vasculhando todo o local. E matassem todos que encontrassem por lá.
         Os homens desceram do cavalo, e esqueceram-se do real motivo que o trouxeram ali. Estavam em fúria. Só pensavam em matar, matar. Para isso tinham sido treinados e manipulados. Para acreditar em uma única verdade soberana do poder. Dentro da cabana por um momento eles acreditaram não haver ninguém, apenas breu. Foi então que um deles foi atingido de surpresa por uma espada. José nem pode ver quem atingiu, caiu desmaiado ao chão. Os outros a verem uma mulher com uma espada na mão, que acabara de matar um dos seus, não pestenejaram e correram na direção dela. E mais uma vez um foi tombado ao chão com um golpe na cabeça. Dessa vez por Lucio que saia do seu esconderijo. Três homens ainda permaneciam de pé e lutavam para matar aqueles dois atrevidos. Um deles em um momento de distração foi atingido pela espada de Sarah, que atravessou seu coração.  Ela tirava a espada para continuar a luta, mas o outro veio pelas suas costas e empunhou uma lança contra seu pescoço. Ela então ficou imóvel por instantes e seguindo seu instinto e com agilidade conseguiu distanciar o pescoço um pouco da lança e abaixar seu corpo. Quando o mesmo tentava capturá-la novamente acertou a espada em cheio em sua cabeça. Lucio lutava com os outros dois homens e já tinha reconhecido serem os assassinos de sua esposa, lutava com tanta fúria que deu cabo dos dois em instantes. Mas ainda não podiam respirar aliviados, correram ao lado de fora e o que virão foi Pedro tombado ao chão, e o vampiro se alimentando dele.
         Lucio ficou levemente assustado, mas sabia que o mundo tinha muitos mistérios e criaturas estranhas. Aos poucos se acalmou.
         Todos os soldados estavam mortos e já estava na hora de Cassius e Sarah partirem. Foi quando ficaram novamente surpresos:    
         - Vou com vocês!
         - È perigoso de mais...
         - Meu caro vocês salvaram minha vida, me deram esperanças e mataram os homens que destruíram minha mulher e filho ainda estava no ventre.
         Assim sendo os três prosseguiram viagem juntos para Roma. Cidade em que o poder da igreja católica reinava. Onde quase tudo, até mesmo pensar era considerado heresia. Cabeças eram tombadas sempre que os soberanos se consideravam ameaçados. Foi uma viagem longa, cansativa, mas tranqüila de ataques. Quanto mais se afastavam do ponto de partida, menos as pessoas reparavam neles.
         Sarah acreditava que o destino havia os juntado. Sabia que enfrentariam muitas batalhas e que encontrariam algo estranho e que influenciaria muito suas lutas. Algo que somente poucos homens tinham acontecimento. Algo que podia dominar o tempo. Era a chave do poder e da destruição. Algo criado por homens ambiciosos que desejavam reinar para sempre. Mas não conseguiu através da sua visão, que tivera ainda no estábulo quando conheceu o vampiro, identificar o que era aquilo que encontrariam no caminho.
         Roma era uma cidade rica, composta praticamente pelos lideres da igreja e mercadores. Quase todos tinham uma vida farta, menos os camponeses que além de terem pouco, eram extorquidos e obrigados há dar o pouco que tinham a homens frios em nome de Deus.
         Os três chegaram à cidade e em um primeiro momento não chamaram a atenção. Muitos chegavam ali com expectativas de uma vida melhor devido às maravilhas que falavam de lá aos quatro cantos. O fato é que muitos poucos conseguiam essa melhoria há não ser que tivessem fortes influências católicas. Encontraram então um lugar para se hospedarem. Precisavam descansar e arquitetar um plano para invadirem o templo e encontrarem a maldita lança. No pergaminho que encontraram dizia claramente que ela estava sendo guardada no templo. Cansados de mais adormeceram para aguardar o cair de uma nova noite e prosseguirem com seus planos.

A lança do destino cap 7

Sarah o fitou ainda meio sonolenta e assustada, mas pode sentir que aquele homem não representava perigo. Lúcio tentando acalmá-la deu um sorriso forçado:
         -Não se assuste, você e sem companheiro podem descansar. Sou o dono da cabana e estou mudando para cá.
         Sarah olhou a espada caída ao chão, ele notando disse:
         - Desculpe. Estava só admirando e a deixei cair.
         - Tudo bem!
         - Nossa seu amigo tem o sono pesado.
         -È, ele esta cansado. Acho que vai despertar só no cair da noite.
         - Muito prazer sou Lúcio.
         - Sarah!
         - Esta com fome?
         - Faminta!
         Lúcio então lhe deu pão e algumas frutas que trouxe consigo. Ela comeu tudo em silêncio enquanto observava. Sabia, podia sentir que algo de terrível acontecia com aquele homem. Ele emanava tanta dor e tristeza. Tentando identificar o que era, deixou uma maça cair de suas mãos, um pequeno tremer invadiu seu corpo e logo ela via a morte de uma mulher grávida. Visões terríveis passaram de tudo que tinha acontecido e no final uma voz serena que a aconselhava. Quando voltou a si notou que o homem a sua frente estava assustado:
         - Sinto muito pela sua mulher.
         - O que? Como sabe?
         - Não importa como sei... Mas saiba que agora ela esta em um lugar muito bom com o seu bebe no colo. E quer que você prossiga com sua vida. Quer que a reconstrua, e não que fique aqui escondido com suas lembranças.
         Lucio tremia, e muitas lágrimas caiam de sua face. Uma emoção nova se apoderava dele. Mas ele ainda queria fugir dessa emoção: a esperança. Temia ela.
         - Mas é impossível esquecer.
         - Não é preciso esquecer. Apenas guarde as lembranças boas do amor que sentiram, dos momentos bons. Se apegue a ele e esqueça tudo de ruim. Esqueça apenas o que te faz mal. A vida ainda continua para você, não a desperdice. Viva, é isso que Isis quer. Quer lhe ver feliz e um dia você ainda vai reencontrá-la. Em um espaço e tempo diferente, mas vai.
         Ele então ficou em silêncio, respirou fundo. Acreditava em todas as palavras daquela mulher a sua frente. Ela era sábia que nem sua pequena Isis fora.