segunda-feira, 26 de maio de 2014

A lança do destino - Cap 1 e 2




Um soldado tomou uma lança e furou-lhe o lado, e saiu sangue e água. Novamente Jesus clamou com alta voz e entregou seu fôlego. E eis que a cortina do Santuário rasgou-se em dois, do alto a baixo, e a terra tremeu, e as rochas se fenderam"

A multidão de pessoas não dispersava. Continuavam ali, com os olhos fixos na cruz em que Jesus estava pregado. Muitos curiosos, esperando que algum milagre acontecesse. Já não bastasse toda dor, humilhação e sofrimento que aquele homem passava, um impiedoso centurião romano abriu espaço entre as pessoas conseguindo ficar bem ao lado da cruz. Seu nome era Cassius. E sem nenhuma piedade ele cravou sua lança em Jesus. O sangue e a água que reverteram do ferimento espirraram em seus olhos e sua face. O guarda se limpou e notou que sua visão que estava antes um pouco embaçada,no qual até sentia medo de perder seu posto, havia voltado ao normal.
            Cassius espantado com sua nova visão sentiu uma ponta de remorso invadir-lhe o peito. Meio tonto com a multidão que agora o cercava, deu um jeito de escapar dali e ir se recolher na sua casa. A lança foi deixada para trás, e logo alguns soldados a recolheram acreditando que aquele artefato era dotado de poderes mágicos.
            Aquela noite já em sua casa ele não conseguia dormir. Sempre que fechava os olhos tinha visões que pareciam vir do próprio inferno. Com fome e cansado de tentar dormir ele foi até a sua cozinha se deliciar com a farta comida. Para sua surpresa após a refeição, uma ânsia repentina o fez vomitar e ficar novamente de estômago vazio. E o pior é que ele ainda sentia fome, mas quanto mais tentava comer mais mal ia se sentindo. Seu corpo estava fraco e mais uma vez deitou para tentar dormir. Adormeceu quando os primeiros raios de sol apareciam para iluminar mais um dia.
            Três dias se passaram e como ninguém tinha noticia de Cassius, alguns soldados da guarda do templo foram procurar por ele em sua casa. Como ele não respondia as batidas, invadiram a casa e ficaram espantados quando encontraram o corpo dele. A pele estava fria e pálida, denunciando sua morte. O curioso é que ninguém soube dizer o que ocasionará a morte dele. O corpo foi enterrado as escondidas para abafar o estranho caso. Já que muitos ainda comentavam sobre a lança que havia ferido Jesus e eles não queriam dar mais popularidade ao caso.
            Os anos foram passando e a lança sendo cobiçada por muitos que a desejam, acreditando que aquele que se apoderasse dela tornar-se-ia o senhor do mundo, dotado dos maiores poderes. Apenas lembravam-se dela e não do soldado que a teve como porte.

Cap. 2
            Dez anos haviam se passado. A vida seguia seu curso normal. Cassius abriu os olhos, e um pequeno tremor percorreu seu corpo. Notou que estava escuro, muito escuro. Sentiu um profundo terror, por instantes acreditou estar cego novamente. Foi então que aos poucos sua visão foi se acostumando com a escuridão. Ao tentar movimentar-se sentiu que estava preso. Apalpou suas mãos para cima e notou que também estava sem saída por ali. O que seria aquilo? Sentia sede, uma sede insaciável. Em pânico começou a bater no caixão e foi ai que se deu conta que havia sido enterrado-vivo. E quando golpeou novamente para tentar se livrar que descobriu sua nova força. Descomunal até para um humano. Mas ele sabia que em momentos de desespero muitos dobravam sua força. E foi então que comum golpe a tampa voou para longe. Terra então caiu sobre ele.
            Quando finalmente conseguiu se libertar de toda aquela terra e levantar-se notou que era noite. E que seus sentidos estavam aguçados. Podia ver com mais nitidez, escutar sons distantes e sentir perfumes carregados pelo vento. Olhou a sua volta e notou que estava em um pequeno campo, logo mais a frente havia um vilarejo. Decidiu caminhar até para pedir comida e abrigo para passar a noite. Quando a luz do dia surgisse tentaria descobrir o que estava acontecendo.
            Cassius chegou ao vilarejo, bateu a porta de uma das casas e logo foi atendido por uma mulher baixa e gorda. A mulher assim que pousou os olhos nele fez o sinal da cruz e seu rosto adquiriu uma expressão de espanto e palidez de quem havia acabado de ver um fantasma. Correu para tentar fechar a porta mais o soldado a impediu:
            - Senhora sei que meu estado é lastimável. Mas preciso de comida.
            A mulher ficou ainda mais apavorada ao ouvir que ele queria comida. Cassius já irritado com a reação dela, com fome, tentou entrar na casa mesmo sem ser convidado. Afinal era um soldado romano e não poderiam negar comida a ele. Ao tentar entrar, porém, uma dor pontiaguda se apoderou do seu corpo e uma voz estranha dizia na sua mente que não podia profanar a casa dos outros. Achou que estivesse tendo alucinações devido à fome. Cambaleou para trás e foi a oportunidade perfeita para a mulher fechar a porta. Olhou furioso para a porta fecha e decidiu partir em busca de outro lugar para se alimentar.
            Em quanto caminhava meio zonzo pelas ruas, olhou para o céu e notou que logo amanheceria. Não sabia por que mas algo o fez sentir um terrível medo. Não podia ficar exposto ao sol. Pensou estar maluco, mas era melhor seguir seus instintos e se esconder. Mas a fome ainda estava o perturbando, o deixando quase louco. Foi então que uma forte brisa trouxe consigo um cheiro doce que logo invadiu suas narinas o despertando para algo, que não sabia identificar o que era. Seguiu em passos rápidos em direção ao cheiro e encontrou apenas uma mulher ferida, sangrando. Seus olhos fixaram no sangue e ficou em êxtase. Sim era aquilo que queria. Imagens vieram atordoar sua mente... Cruz, espadas, lanças, Jesus...
            Os devaneios pararam e ele lentamente se aproximou da mulher. Ela por sua vez começou a tremer, fechou os olhos e juntou as mãos em uma prece. Cassius lambeu o ferimento e o gosto do sangue percorreu-lhe a boca, o corpo e o atirou a um desejo incontrolável. Ele sem pensar em mais nada, perfurou o jugular dela e se banhou ao sangue, se deleitando a cada gota de sangue. Aos poucos foi sentido nova vitalidade. O prazer daquilo lhe dava vida, o deixava forte e a fome saciada. Logo a mulher ferida caiu tombada morta ao chão.
            O dia começava a despertar e o soldado sentiu sua pele arder como se tivesse pegando fogo. Foi quando de dentro de um estábulo uma voz feminina gritou:
            - Entre agora
            Cassius correu entrando no estábulo escuro e se sentiu confortado. Olhou a mulher a sua frente, ela era linda. Cabelos ruivos, encaracolados, olhos verdes, a pele alva, seios fartos. Mas antes que ele pudesse perguntar quem era ela o sono o dominou e adormeceu.

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