Aquela noite já havia sido longa de mais e logo não poderiam prosseguir viagem porque amanheceria. Cassius e Sarah então terminaram de pegar os pertences dos soldados mortos e partiram a procura de um abrigo onde pudessem passar a noite. Não precisaram andar muito, logo encontraram uma cabana abandonada por uma trilha alternativa que acharam na estrada. O lugar era perfeito, bem escondido e poderiam descansar em paz sem o risco de mais ataques.
A cabana simples, empoeirada, com apenas alguns moveis velhos indicava que o lugar estava vazio há muito tempo. Os dois então se acomodaram da melhor forma que puderam e logo já estavam adormecidos. Um sono pesado e sem sonhos.
O sol já estava alto no céu, um calor intenso,indicando já estar na metade do dia. Lúcio caminhava pela estrada carregando alguns pertences. No dia anterior havia comprado uma cabana de um velho e queria mudar logo o quanto antes. As lembranças da sua antiga casa eram dolorosas de mais. Ainda podia ouvir os gritos da sua mulher, que pareciam ter ficado presos nas paredes da casa. Ela havia sido morta de forma tão bárbara e cruel em nome de um Deus justo e bom. Suspirou, estava tão cansado daquele poder soberano da igreja católica onde qualquer um que contestasse era morto ou submetido a torturas diversas. Isis, sua mulher tinha sido pagã, cultuava uma deusa e acreditava em outra forma de vida do que a que a igreja católica propunha. Mas nunca havia feito mal a ninguém e mesmo assim tinha sido brutalmente assassinada. Lágrimas mais uma vez caiam, e com seus pensamentos ainda na mulher chegou à cabana.
Ao entrar levou logo um susto ao notar que um casal dormia lá. Ficou temeroso, mas os dois pareciam inofensivos e deveriam ser viajantes cansados que procuraram abrigo para descansar. Foi só então que se lembrou do cavalo que havia visto do lado de fora. Seus pensamentos tão absorvidos na tragédia que o abatera não tinha o deixado a assimilar o cavalo com pessoas próximas. Ficou inquieto com a presença deles, mas os deixou dormirem. Notou que em cima da mesa velha havia uma bolsa e algumas espadas. Pegou uma espada em suas mãos e sua mente foi transportada para dias atrás:
“Ele havia chegado em casa após mais uma jornada árdua no mercado de frutas. Cansado, mas contente. Sua mulher estava grávida e logo teriam o filho que sempre sonharam. Que preencheriam os dias deles com alegria. Ao entrar notou que a porta estava aberta e antes que pudesse ver o que acontecia escutou os gritos de sua mulher.
- Não, por favor. Deixem meu filho nascer, depois podem me matar.
- Não podemos permitir que o filho de um demônio nasça.
Um grito angustiado e apavorante dez se ouvir e quando Lucio correu já era tarde de mais. Sua mulher estava tombada ao chão, com a cabeça cortada e uma espada cravada em sua barriga. Aquela visão o deixou paralisado, caiu de joelhos no chão. O desespero e a agonia o invadiram de forma violenta.
Um dos soldados parado disse:
- Acredite foi melhor assim. Não era seu filho. Era o filho de uma bruxa e de um demônio.
Os homens então saíram o deixando sozinho. “Lúcio ficou dias caído ao chão apenas chorando.”
A espada caiu de suas mãos fazendo um forte estrondo. Sarah acordou assustada, e em um sobressalto deu de cara com o homem a sua frente de olhos avermelhados e expressão triste.
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