"..Debaixo de uma lua azul eu te
vi. Logo você me levará. Em seus braços. È tarde para implorar. Ou cancelar,
embora eu saiba que deva ser. O tempo de decisão. Que vem contra a minha
vontade...”
Agatha
tinha muitas casas e esconderijos, mas na maior parte do tempo preferia ficar
no seu casarão localizado no alto da Lapa, onde tinha conforto, luxo e acima de
tudo lembranças, pedacinhos fragmentados de uma vida que tivera antes de se
tornar imortal. Pela casa fotografias, cartas, discos e livros. Todos os itens contavam um pouco de sua história
e mesmo sendo um passado doloroso e um passado distante das condições de que
vivia agora, gostava de guardar tudo... Aqueles objetos nostálgicos eram o mais
próximo que ela poderia chegar de lembrar como era sua vida humana.
Estava
na sala, sentada em uma pequena poltrona de couro preto, na mão uma taça de
cristal com o liquido vermelho e precioso, o elixir da vida. Seu olhar distante, sua postura fria como
sempre. Sua mente vagava por muitos
lugares e seus pensamentos a confundiam. Sempre que fechava seus olhos via a
imagem da mulher que conhecera noites atrás. Ela era linda, sua pele alva,
cabelos ruivos e olhos esverdeados. Com contraste com a pele alva, várias tatuagens
marcavam seu corpo. E ela dançava como ninguém. Uma verdadeira deusa em forma humana.
Assim que a vampira pousou os olhos nela, logo pensou em seduzir aquela dama e
ser sua vítima. Mas algo a impediu, uma força maior fez com que ela se
controlasse e não atacasse ninguém àquela noite e desde então não tinha saído
mais do seu casarão. Se alimentado apenas com o sangue que seu criado trazia diariamente. Não era tão prazeroso como o sangue vermelho
e quente misturado com o medo de suas vítimas, mas por alguns dias foi o
suficiente. Em devaneios mal notou quando seu criado entrou na sala:
-Senhora?
-Como
ousa me incomodar?
- Eu só
pensei que talvez essa noite a senhora quisesse sair, estou preocupado, há dias
não se alimenta direito.
- E
desde quando isso é da sua conta?
Agatha
levantou do sofá de forma tão ágil, atirando a taça que estava em mãos na parede
próxima, aonde os pedacinhos de cristal iam se estilhaçando. Pegou seu criado
pelo pescoço e o arremessou contra a parede.
-Meus
criados não falam apenas me obedecem. Da próxima vez eu te mato sem pensar duas
vezes seu verme. E agora limpe toda essa
bagunça.
-Sim
senhora...
A
vampira olhou pela sua janela, e deixou seus olhos vagarem pela noite e ir de
encontro ao céu. Céu esse que devido a sua maldição segundo as lendas, seria
renegada. As estrelas e a lua brilhavam com intensidade. O brilho azul da lua,
o clarão das estrelas e a brisa fria fizeram com que ela fechasse os olhos por
um instante. Se ainda fosse viva, se ainda fosse humana naquele momento teria
soltado um longo suspiro. Mas já não
podia respirar, há muito tempo emoções tolas não a invadiam. E tudo o mais era
deixado para trás somente para que ela pudesse saciar sua fome. Seu real e
intenso prazer era perfurar a jugular e drenar o sangue, drenar toda a vida de
um corpo. Era seu orgasmo, seu ápice. Viveria milhões de anos, mas sempre
solitária. Afinal todos morriam, todos envelheciam, tinham sua própria família.
Mas ela não. Ela fora roubada e tudo isso. E aos dezenove anos perdeu toda a
chance de uma vida normal.
Nunca
esqueceria a noite que tinha se transformado em vampira. Era uma noite comum
como tantas outras. Estava fazendo sua caminhada noturna, gostava de caminhar e
correr para relaxar. E gostava de fazer
isso à noite, quando a cidade estava mais silenciosa e quando o mundo pertencia
a ela. O silêncio, correr, respirar o ar da noite, e a lua, ah a lua,
principalmente nas suas noites mais esplendorosas tinham o poder de acalmá-la e
relaxá-la como nunca. Quando parava de
correr e voltava a caminhar em passos lentos, sua mente sempre já estava vazia.
Somente a sensação de paz e bem estar a invadiam. E em uma dessas noites, quando
terminou seus exercícios e voltava para casa, não notou que um homem estranho
há seguia. Foi notar somente quando já no portão da sua casa, o homem por trás
encostou um revólver na sua cabeça e com a voz baixa e rouca disse:
-Venha
comigo!
Agatha
estremeceu, mas o medo da morte e de levar um tiro fizeram com que ela não
tivesse nenhuma reação que pudesse assustar o homem e ele optasse por matá-la
ali mesmo. Ele a conduziu para uma viela escura e vazia, e ainda apontando a
arma para ela, empurrou-a na parede e com sua mão livre começou a acariciar
seus seios e logo passar sua mão por entre as pernas dela. Entendendo o que
estava acontecendo, Agatha começou a chorar, iria ser estuprada por aquele
homem imbecil e nojento. Começou a
chorar e em soluços pediu para que ele a deixasse em paz. O homem apenas gargalhou e começou a rasgar
as roupas da própria garota. Sem se importar com soluços, com o corpo que
tremia a sua frente. Como um animal implacável
atacava o corpo da garota e a mesma só chorava.
Ela
fechou os olhos e implorou para que aquilo acabasse rápido, estava com nojo
dela mesma por não conseguir impedir aquele homem de violentá-la. Foi então que nessa maré de angústia sentiu
quando o homem foi arremessado longe.
Ele havia caído alguns metros de distância dela. E sua frente uma
mulher. A mulher era tão linda que parecia um anjo, seu tom de pele, mais
pálido que o normal, seus cabelos loiros e encaracolados. Aquela mulher misteriosa em um segundo estava
a sua frente, no outro estava ao lado do homem caído ao chão. Agatha gritou de
terror, quando viu o anjo loiro cravar os dentes naquele homem e como uma vampira
sugar todo o sangue dele. Como uma vampira, sim, isso só poda ser um pesadelo.
Nada daquilo podia estar de fato acontecendo com ela. Sua visão escureceu e nada mais viu. Quando acordou e abriu seus olhos viu que
estava deitada em uma cama desconhecida e em um lugar desconhecido. Acariciando
seu rosto e seus cabelos, estava àquela mesma mulher que há tinha salvado.
Então não tinha sido um pesadelo? Queria pensar um pouco mais em tudo aquilo,
mas as carícias daquela mulher estavam cada vez mais intensas e ela começou a
se excitar. Agatha ficou com a respiração entrecortada, quando a mulher loira a
sua frente deslizou suas mãos por entre as coxas dela, brincando um pouco mais,
antes de subir a mão para sua virilha e seu sexo. O anjo loiro acariciou cada
parte do seu corpo, e quando percebeu que Agatha estava completamente excitada,
gemendo baixinho, deu seu beijo final e de morte, encravando seus dentes no
pescoço da garota. E por alguns minutos eternos drenou todo o sangue que podia
toda a vida que podia. Logo em seguida com sua própria unha fez um corte em seu
seio esquerdo e deu para que a Agatha tomasse. Tudo depois disso são lembranças
confusas, noites estranhas, de delírios, corpo queimando e ardendo, sentidos
aguçados, a claridade e o sol foram perdendo o sentindo. Até não existir mais
para ela. Talvez nesse período pudesse ter sido passado apenas alguns dias,
meses, semanas. O fato é que Agatha não se recordava de quanto tempo levou até
que toda a dor e o delírio chegassem ao fim. Lembrava apenas de uma noite ter
aberto os olhos e enxergado o mundo de outra forma. Descobriu aquela noite que
seu anjo loiro era uma vampira que seu nome era Daniele e que essa vampira
tentava proteger as mulheres que encontravam das maldades que os homens
praticavam com elas. Agatha então descobriu como os homens eram nojentos e
patéticos, e toda vez que se lembrava da forma como aquele homem estranho tinha
a violentado, sentia uma raiva gigante por homens. E decidido então que iria
utilizar da própria fraqueza delas uma arma: o sexo. E acabaria com quantos
homens pudesse. Nessa vida solitária se ser uma vampira.·.
Agatha abriu
seus olhos e mais uma vez se encontrava no presente e na sua sala. O criado já
havia limpado a sujeira e os vidros quebrados da taça e inclusive se retirado
do recinto. Ela voltou a sentar no seu sofá, e esfregou suas mãos na cabeça.
Quando se tornou vampira jurou matar quantos homens pudesse, atraindo eles para
sua morte com o sexo. Sexo que sempre os enlouquecia. Mas de umas noites para
cá se questionava se todos os homens mereciam mesmo morrer, se todos eram
cruéis.
-Mas
claro que é minha cara.
A vampira
reconheceu a voz imediatamente.
-Como
pode saber Daniele?
-Você
já conheceu algum homem puro?
Agatha
não respondeu, mas essa pergunta à fez lembrar o rosto que de fato a estava
atormentado. O rosto que de fato estava trazendo tantas lembranças e
questionamentos na sua vida de uns tempos para cá. Com fúria descontrolada foi
até a cristaleira que guardava louças antigas de sua família antes de tudo e a
atirou de uma vez no chão. Louças quebradas, tudo estilhaçado pelo chão.
Daniele olhou para ela surpresa, mas nada disse. Agatha contornou todas as coisas quebradas e
sentou em um canto do chão. Chorou por alguns instantes, lágrimas de sangue
caiam sobre seu rosto. Queria que esse
tormento acabasse, queria tiraras imagens daquele garoto de sua mente e
principalmente se recusava a acreditar que depois de tanto tempo poderia ter
uma emoção humana e ainda que tivesse sido desperta por um simples menino. Aquilo teria que acabar.
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