Jonatas estava parado como de costume na praça
que tinha ao lado da estação da Lapa. Olhou no relógio, quase onze horas da noite.
Sabia que logo ela apareceria. E não deu outra quando percebeu vários olhares
na mesma direção já sabia que ela passava. Todas as noites, sempre no mesmo
horário caminhava por entre aquelas ruas imundas da Lapa, uma mulher tão
diferente. De uma energia tão magnífica, atraia olhares e atenções de todos ao
redor. Olhares de homens que a desejavam e de mulheres que a invejavam.
Hoje ela estava linda como todas as noites, um
espartilho preto, com rendas em vermelho. Uma saia longa preta, com tule. No
pescoço uma singela pedra vermelha em forma de gota. Cabelos soltos ao vento,
da altura dos ombros, ondulados. Olhos firmes e fixos para frente. Era sempre
assim que aquela mulher andava. Não olhava para baixo, não olhava para os
lados. Muitos confundiam isso com arrogância, mas Jonatas sabia que não. Era
apenas segurança dos seus passos. Segurança de que não precisava de nada. Sabia
que era bela e carregava consigo um olhar tão intrigante e misterioso que
muitos dariam a vida para entrar no mundo dela. Saber quem era de onde vinha,
para onde ia.
Como sempre a bela mulher passou, com rosto
sereno, sem expressão. Sem sorriso, sem olhares. Era como se andasse, ou
melhor, flutuasse em uma passarela. Jonatas entristecido com a presença dela
que já sumia nas ruas escuras teve uma ideia. Segui-la. Saber um pouco mais
daquela mulher misteriosa que mexia com seus instintos. Ele ficava ali todas as
noites até o horário dela passar. Mas não se contentava mais com isso, queria
sentir seu perfume por mais tempo, saber seu nome e se não fosse ousadia saber
o que a fazia se sentir tão segura além de toda aquela beleza inatingível.
Foi então que começo a caminhar depressa, para
ficar a poucos passos de distância dela. Seu coração tremia. E foi assim uma
longa caminhada que nem percebeu que há muito tinha saído daquela parte feia do
bairro da Lapa e se encontrava agora na parte arborizada, com ricas casas. A
sua dama caminha, passo lento e estranhamente não sentia medo de andar só àquela
hora sozinha na rua? Jonas estremeceu, pensando na sua dama todos os dias
fazendo esse caminho só. Estava tão perdido em seus devaneios que não percebeu
que ela havia parado em um casarão e o olhava. O fitava demoradamente. Então
naquele rosto belo, porém gélido e sem expressão surgiu um sorriso.
A dama misteriosa entrou no casarão e Jonatas com
tristeza percebeu que mais uma noite chegava ao fim para ele e que ansiaria com
outra noite, para vê-la passar. Com um sentimento de tristeza ia virando as
costas quando a garagem da casa foi aberta e um carro vermelho sai de dentro.
Olhou para o carro e a mulher que povoava e atordoava seus sonhos e desejo
estava dentro dele. Ela abriu a janela e disse:
-Venha, vamos dar uma volta? Logo é madrugada.
Odeio madrugadas solitárias.
Jonatas correu para dentro do carro, esqueceu que
não a conhecia. Esqueceu que estava entrando em um mundo completamente
desconhecido para ele. Suava frio, tremia. Não tinha coragem de olhar para o
rosto daquela mulher.
- Ei, companhias só são boas quando de fato
sentimos que elas estão presentes. Onde estão seus pensamentos?
- Desculpa senhora, é que estar no seu carro é
algo imprevisível.
- Senhora? Não me faça rir! Prazer meu nome é
Agatha. Se esse foi o seu desejo por que esta com medo agora?
Aquela mulher realmente tinha algo mágico. Mas
como sabia que ele alimentava desejos de estar com ela um pouco mais do que
apenas vê-la passar todas as noites por breves momentos na rua.
- Desejo?
- Sim, o chamei para entrar no carro e você
entrou! Foi seu desejo entrar não?
- Ah
Agatha gargalhou e continuou dirigindo. No som do
carro um som tocava alguma banda alemã provavelmente. Ela acelerou o carro,
correndo em alta velocidade. Jonatas sentiu arrepios e lembrou-se de por o
sinto de segurança. A mesma ria ainda mais. Olhou para ele divertida e disse:
- Esta com medo?
- Não senhora!
- Senhora? Você deve estar mesmo com muito medo.
Rodaram mais alguns quilômetros, quando Jonatas
percebeu que estava em um camping. Achou estranho e vai ver que calculou que
tivera menos tempo dentro do carro. Por que não havia nenhum camping perto da
Lapa. E aquele lugar cheio de chalés, árvores e montanhas nem de perto estava
próximo. Calafrio de novo, mas sabia que deveria parar de pensar bobagens.
Estava tão atordoado com a presença dela que deveria não ter percebido o tempo
que levaram.
- Saia do carro!
- O que? Que? Mas por que senhora?
- Quero que saia do carro e fique na frente dele.
- Não.
- Saia não seja um covarde. Odeio covardes.
Jonatas tremia tanto, mas obedeceu. Que raio por
que obedecia uma mulher? Ela era linda sim, mas ele era muito mais forte e
podia fazer o que bem entendesse. Mas Agatha não era qualquer mulher. Ele então
foi até a frente do carro, suas pernas tremiam. Ficou ali paralisado. Percebeu
que a música que tocava agora no carro estava bem alta e essa ele conhecia
muito bem. Route 66 do depeche mode. Engoliu seco. Fechou os olhos e rezou
baixinho.
Agatha então acelerou o carro e passou por cima
dele. Sem dó, sem piedade. Sem explicação. Apenas o atropelou e gargalhava como
uma desvairada. Depois deu ré e passou novamente. Fez isso por algumas vezes
até que cansou, encostou o carro e desceu. Jonatas estava estirado no chão, com
a respiração entrecortada. Ela o olhou. Seus olhos brilharam um ar sádico e
terrível. Ela então se aproximou dele e o beijou. Um beijo gélido, como se
fosse a própria morte que o beijasse. Sussurrou baixo em seu ouvido:
- Cuidado com o que deseja você pode ficar
eternamente preso aos seus desejos.
E com um movimento mais brusco mordeu sua
garganta. Sim agora ele sabia. Era seu sangue que ela queria. Não bastava
humilhá-lo. Ia terminar com tudo ali. Jonatas sentiu sua vida de esvaindo.
Fechou os olhos então e dormiu o sono dos mortos. Agatha terminou de sugar todo
aquele sangue, levantou-se, limpou sua boca. Olhou para aquele corpo morto.
Riu. Caminhou até o carro e foi embora
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